A Justiça alemã condenou nesta terça-feira (28) a cinco anos de prisão um ex-vigia de um campo de concentração nazista. Josef Schütz, de 101 anos, é a pessoa mais idosa a ser considerada culpada de cumplicidade em crimes cometidos durante o holocausto.
O ex-suboficial nazista foi considerado culpado de “cumplicidade” pela morte de mais de 3.500 prisioneiros quando trabalhava no campo de Sachsenhausen, ao norte de Berlim, entre 1942 e 1945.
“Durante três anos você assistiu a prisioneiros sendo torturados e mortos diante de seus olhos. Pela sua posição, em cima de um mirante do campo de concentração, você tinha constantemente a fumaça do crematório no seu nariz”, declarou Udo Lechtermann, presidente do tribunal de Brandemburgo no Havel, no leste do país.
“Toda pessoa que queria fugir do campo era fuzilada. Dessa maneira, todo guarda do campo participou ativamente desses assassinatos”, acrescentou. “Existem lugares onde não devemos estar e coisas que não devemos fazer”, concluiu.
Quando a sentença — superior ao mínimo de três anos de prisão por cumplicidade em mortes prevista pela Justiça alemã — foi anunciada, o acusado, em cadeira de rodas, vestido com uma camisa cinza e uma calça de pijama, não mostrou nenhuma reação.
O advogado do ex-militar anunciou em seguida que iria recorrer da decisão, o que atrasaria o cumprimento da sentença até o início de 2023. Dada a idade avançada e a saúde frágil do acusado, que compareceu em liberdade ao processo, é pouco provável que ele seja preso.
Nenhum arrependimento
Em nenhum momento das quase 30 audiências do caso o réu expressou o menor sinal de arrependimento. Na segunda-feira (27), antes do fim do julgamento, ele voltou a negar qualquer responsabilidade. “Não sei por que estou aqui. Digo a verdade. Não tenho nada a ver com a polícia e o exército, tudo o que foi dito é falso”, disse o acusado, com a voz trêmula.
Mas Josef Schütz entrou em contradição ao narrar fatos de seu passado. Recentemente, ele afirmou que saiu da Lituânia no início da Segunda Guerra Mundial para seguir até a Alemanha, onde teria trabalhado como agricultor durante todo o conflito.
“Derrubei e plantei árvores”, disse, depois de jurar que nunca vestiu um uniforme alemão, e sim “roupa de trabalho”.
Uma versão que é contestada por vários documentos históricos que mencionam, entre outros dados, seu nome, data e local de nascimento, o que demonstra que de fato atuou, do fim de 1942 ao início de 1945, na divisão “Totenkopf” das Waffen-SS.
Depois da guerra, ele foi transferido para um campo de prisioneiros na Rússia e posteriormente se mudou para Brandemburgo, região vizinha de Berlim.
Ele foi agricultor, depois serralheiro e nunca foi incomodado pelas autoridades. Com 21 anos de idade no início dos fatos imputados, Schütz foi acusado, entre outras coisas, de ter fuzilado prisioneiros soviéticos, de “ajuda e cumplicidade em assassinatos sistemáticos” por gás Zyklon B e por “deter prisioneiros em condições hostis”.
Entre a abertura em 1936 e sua libertação pelos soviéticos em 22 de abril de 1945, o campo de concentração de Sachsenhausen registrou quase 200.000 prisioneiros, em particular opositores políticos, judeus e homossexuais.
Dezenas de milhares deles morreram, vítimas principalmente de exaustão devido ao trabalho forçado e às condições cruéis de detenção.
Depois de ter demonstrado por várias décadas pouca vontade de julgar todos os autores de crimes nazistas, a Alemanha ampliou nos últimos 10 anos suas investigações e os guardas dos campos de concentração e outros executores da máquina nazista podem ser processados por cumplicidade em assassinatos.