Alguns países estão a tentar escapar do acordo histórico alcançado na Conferência climática COP28 para abandonar os combustíveis fósseis, de acordo com antigo Vice-presidente dos EUA, Al Gore.
Na conferência das Nações Unidas no Dubai, 197 nações concordaram em acelerar a remoção dos combustíveis fósseis dos seus sistemas energéticos nesta década e eliminá-los até meados do século. Mas alguns dizem agora que parte do compromisso é opcional, disse Gore, presidente da Generation Investment Management, numa entrevista à Bloomberg TV à margem do Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça.
O compromisso foi elogiado como um ponto de viragem para a diplomacia climática global porque abordou directamente a fonte do aquecimento global: os combustíveis fósseis que geram gases com efeito de estufa que aquecem o planeta quando queimados. Foi um pequeno passo em frente, mesmo com 2023 a ser declarado o ano mais quente já registado e com eventos climáticos extremos a devastar o mundo inteiro.
Mas a linguagem do acordo ainda está aberta à interpretação. O Ministro da Energia saudita, Abdulaziz bin Salman, salientou num fórum em Riade, em 10 de Janeiro, que o início do parágrafo da decisão da COP28 que trata da transição dos combustíveis fósseis apenas “apela” aos países para que “contribuam”. Isto também se aplica a compromissos importantes, incluindo triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030.
Gore também defende a reforma do processo diplomático que sustenta as cimeiras anuais sobre o clima, conhecidas como Conferência das Partes, ou COP. “O mundo está a ficar compreensivelmente impaciente e frustrado porque estas conferências são fraudulentas”, disse Gore. “A situação está favorável à indústria fóssil.”
Tal como acontece com outros processos sob a égide da ONU, as decisões, incluindo qual país será anfitrião, são tomadas por consenso. Isso significa que qualquer nação tem direito de veto, um requisito que muitas vezes resulta em acordos que refletem apenas o mínimo do que qualquer país está disposto a fazer.
“Foram necessários 28 anos de COPs antes que pudéssemos usar a expressão ‘combustível fóssil’”, disse Gore. “A crise climática é uma crise de combustíveis fósseis e, no entanto, demorou tanto tempo a superar esta resistência e até a dar nome a esse problema.”
O questionamento do processo COP aumentou no ano passado quando os Emirados Árabes Unidos, um grande produtor de petróleo e gás, se tornaram o país anfitrião e nomearam Sultan Al Jaber, CEO da empresa petrolífera estatal de Abu Dhabi Adnoc , como presidente da COP28. Este ano, o Azerbaijão sediará a COP29, com o ex-executivo do petróleo Mukhtar Babayev como presidente.
No entanto, muitos analistas concordam que o maior progresso em relação à necessidade de transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis foi precisamente alcançado no âmbito da COP28, liderada pelos Emirados Árabes Unidos.