Alegados casos de corrupção levam secretário-geral do ANC aos tribunais e acentuam as clivagens do partido no Governo da África do Sul. Jacob Zuma e Cyril Ramaphosa polarizam a organização política mais poderosa do país.
O secretário-geral do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), Ace Magashule, e os seus aliados reuniram-se no último domingo (15.11) num hotel de Bloemfontein, província de Free State, para acertar a estratégia de defesa num processo em tribunal contra o dirigente do ANC por corrupção e de ataque aos seus opositores no seio do partido no poder.
Magashule é um dos implicados em 21 casos de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro referentes a um contrato de auditoria de amianto no valor de 15 milhões de dólares, quando era governador da província de Free State, em 2014.
O secretário-geral do ANC encontra-se em liberdade provisória, mediante o pagamento de uma caução de cerca de 12 500 dólares e deverá comparecer perante o Tribunal Superior de Free State em Fevereiro de 2021.
Para diversos analistas, as acusações que pesam sobre o segundo homem forte do ANC podem ter motivações políticas. O secretário-geral é aliado do ex-Presidente Jacob Zuma e lidera uma oposição interna no partido ao Presidente Cyril Ramaphosa.
Magashule declara-se inocente e congratula-se pelo facto de ter uma oportunidade para limpar a sua imagem. ”Dou boas-vindas às acusações, sei como tudo isto aconteceu. Isto é um fato para uma outra audiência em tribunal porque irei expor como o que eu chamo ‘casos fabricados’ teriam sido cozinhados”.
Queima-se fotos de Ramaphosa
Simpatizantes do secretário-geral – apesar de terem sido advertidos para não mostrar nenhum tipo de apoio aos indiciados pela prática de corrupção – deslocaram-se ao tribunal de Bloemfontein na última sexta-feira, 13 de novembro, onde queimaram camisolas com a foto do presidente do partido, Cyril Ramaphosa, numa demostração das divisões existentes no seio dos camaradas.
Sibongile Besani, chefe dos escritórios do Presidente do ANC no Lithuli Hause, sede do partido, condena os incidentes: ”Historicamente já registamos situações idênticas e o ANC tem condenado este tipo de ato. Especialmente quando são camisolas com a imagem do Presidente a serem queimadas, dai que mais uma vez condenamos esta anarquia”, diz.
A liderança máxima do partido no poder, denominada ”Top 6”, reúne-se na próxima segunda-feira, para debater questões em torno da detenção do seu secretário-geral. Entretanto, espera-se que o Comité Executivo Nacional do partido se reúna no final do mês para definir se um líder acusado criminalmente deve afastar-se do cargo.
Discursando perante os seus seguidores em Bloemfontein, Magashule teria defendido que só abandonaria o cargo caso as bases do partido assim o deliberassem, tendo apelado à convocação de um congresso nacional extraordinário para o efeito.
A destituição de líderes acusados de corrupção faz parte das resoluções do último congresso eletivo que teve lugar em 2017 no Soweto. Bantu Holomisa, líder do Movimento Democrático Unido, partido da oposição, defende: ”A tentativa de politizar este caso irá custar a Ace Magashule um pouco de disciplina, isto porque as pessoas o irão acusar de falta de disciplina, porque deve servir de exemplo. Colocando em mente que estamos perante uma resolução do Congresso Nacional Africano”, calcula.