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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Adiado o Sonho: Impactos do Adiamento da Visita de Joe Biden a Angola e as Expectativas do Governo Angolano

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A tão esperada visita do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Angola foi adiada. A decisão, motivada por eventos climáticos e geopolíticos de grande importância, deixou muitas expectativas frustradas, tanto do lado angolano quanto entre figuras políticas que viam no evento uma oportunidade de ganhar visibilidade e influência. O adiamento trouxe à tona não apenas questões de gestão de crises globais, mas também as fragilidades da diplomacia e da política interna angolana, que busca apoio externo para resolver problemas profundamente enraizados.

Leia mais aqui: “O presidente dos EUA, Joe Biden, fará a primeira visita à África com viagem a Angola nas próximas semanas, relata a Reuters”

As Razões do Adiamento: Catástrofes Naturais e Tensão no Oriente Médio

O principal motivo para o adiamento da visita de Joe Biden foi, segundo a Casa Branca, a emergência climática nos Estados Unidos, com a aproximação do Furacão Milton e os efeitos devastadores do Furacão Helene na região sudeste do país. A prioridade de Biden foi clara: supervisionar de perto os preparativos e a resposta do governo às catástrofes naturais que ameaçam milhões de americanos.

Essa atitude racional e responsável, típica de um líder que coloca os interesses da sua nação em primeiro lugar, demonstra a seriedade com que o presidente encara os desafios internos, e em nada ofusca a importância que Biden atribui à sua viagem a Angola. Os americanos dificilmente compreenderiam a viagem de Biden a Angola, numa altura em que os Estados Unidos correm o risco de serem atingidos por um dos furacões mais devastadores dos últimos 100 anos.

Além disso, a crescente tensão entre o Irão e Israel também deve ter desempenhado um papel crucial nessa decisão. As relações entre os dois países estão em um ponto de ebulição, com risco de conflito armado que poderia desestabilizar ainda mais a região do Oriente Médio. Para quem tem acompanhado a evolução da situação no Médio Oriente, percebe que se chegou a um ponto crítico na escalada do conflito, com Israel a considerar atacar as instalações petrolíferas do Irão, ou mesmo as instalações nucleares.

Como Comandante-Chefe da maior potência militar mundial, Biden precisa de estar disponível para lidar com estas questões geopolíticas de grande impacto global, o que inviabilizou a sua participação noutros compromissos diplomáticos, como a visita a Angola e à Alemanha, também adiada.

O Objetivo do Governo Angolano: Uma Oportunidade Política

Do lado angolano, a visita de Joe Biden foi planeada como uma grande oportunidade para o governo. Não se pode negar que a visita do Presidente dos Estados Unidos marcaria um ponto alto na diplomacia angolana. O partido no poder estava ansioso para tirar proveito político da visita do líder americano, promovendo-a como um feito diplomático significativo, que colocaria Angola em uma posição de destaque no cenário internacional. Angola vai assumir a presidência da União Africana no próximo ano.

O presidente angolano, João Lourenço, pretendia usar o evento como uma demonstração do prestígio diplomático do país e da sua capacidade de atrair a atenção de uma superpotência global como os Estados Unidos. Mas o adiamento da viagem de Biden e o facto de João Lourenço não ter estado presente na reunião do FOCAC 2024 (Fórum de Cooperação África China), em Pequim, não deixarão de pesar na imagem da diplomacia angolana.

O governo angolano investiu fortemente na preparação dessa visita. Grandes somas de dinheiro foram mobilizadas para limpar e embelezar a cidade de Luanda. Ruas foram varridas, muros que não recebiam manutenção desde a era colonial foram pintados, e até mesmo pessoas em situação de rua foram removidas das áreas públicas. Essa operação de “maquiagem” da cidade, como muitos a descreveram, tinha o objetivo claro de impressionar o visitante ilustre, uma prática comum em países onde o governo busca mostrar uma realidade distante do cotidiano enfrentado pela população.

No entanto, embora houvesse grande expectativa de que a visita traria benefícios económicos, ajudando Angola a sair da sua atual crise, o adiamento expôs a fragilidade da estratégia. O governo angolano apostou alto em um evento que, na verdade, teria pouco impacto real na economia do país. À medida que começamos a compreender melhor a dimensão do Corredor do Lobito, projecto emblemático que estaria em destaque durante a visita do Presidente Biden, percebemos que o impacto do projecto no desenvolvimento de Angola está longe de equiparar-se ao do Caminho de Ferro de Benguela (nome pelo qual era conhecido o Corredor do Lobito) no início do século XX.

Expectativas Frustradas e Realidade Económica

A expectativa do partido no poder e de muitos setores políticos era de que a visita de Biden fosse um marco para a economia angolana. Havia um sentimento generalizado de que a chegada do presidente americano poderia trazer investimentos e parcerias que ajudariam a tirar o país da difícil situação económica em que se encontra. No entanto, essa visão simplista subestima a complexidade das relações internacionais e a natureza dos problemas angolanos.

De facto, a visita de Biden poderia abrir portas para o diálogo, mas é irrealista esperar que qualquer visita de um líder estrangeiro, por mais influente que seja, possa resolver os profundos desafios económicos e estruturais de Angola. A atual crise angolana não é resultado apenas de falta de apoio externo ou de investimentos internacionais. O problema fundamental está dentro do país, na ausência de uma visão clara e comprometida com o desenvolvimento sustentável.

A Realidade de Angola: Um País em Busca de Soluções Internas

A esperança de que uma visita de um presidente estrangeiro possa mudar o curso da economia angolana reflete uma visão distorcida da realidade. Angola não será salva por investimentos externos ou por ajuda internacional, por mais desejável que isso possa parecer a curto prazo. O progresso não se baseia na captação de grandes somas de dinheiro que acabam nas mãos de poucos.

As ações realizadas para preparar a cidade de Luanda para a visita de Biden, como a limpeza e as reformas superficiais, mostram que, quando há vontade política, mudanças podem ser feitas rapidamente. No entanto, essas ações temporárias são insuficientes. Não se trata apenas de “fazer bonito para o estrangeiro ver”, mas de construir um país que funcione para os seus cidadãos em todos os aspectos.

O adiamento da visita de Joe Biden serve como um lembrete de que a mudança verdadeira não vem de fora. Ela deve ser construída internamente, colectivamente, para que a visão e o compromisso com o desenvolvimento sustentável do país possam ir além dos ciclos políticos.

Por: Henda Ya Xiyeto
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