Subornados, membros do Movimento Revolucionário terão cancelado protesto que pedia demissão do Presidente angolano. Ativistas dizem que é uma prática comum e a UNITA é apontada como uma das financiadoras dos protestos.
Horas depois de o Chefe de Estado de Angola, João Lourenço, aceitar o pedido de desculpas de alguns membros do Movimento Revolucionário que o insultaram e depois convocaram protestos contra a sua governação, vazou nas redes sociais um diálogo dos mesmos ativistas a confirmarem que tinham sido subornados.
Os jovens activistas, ou “revús”, que representam o município de Viana terão sido aliciados com 10 milhões de kwanzas, cerca de 10 mil euros, para cancelarem o protesto marcado para 26 de Junho, dia em que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, promoveu uma marcha de apoio às políticas de João Lourenço.
Subornos são comuns?
A DW contactou os nomes envolvidos no caso, mas não teve sucesso. No entanto, outros activistas revelam que a corrupção passiva tornou-se prática comum na oposição, que se deixa subornar em troca do silêncio ou do cancelamento de protestos.
“O que os move são interesses pessoais. São mercenários e esses mercenários, por serem batatas podres que podem contaminar as outras, devem ser isolados, devem ser descartados de tal maneira que não influenciam os outros”, criticou o ativista Nuno Dala à DW África.
Segundo o denunciante, a maior parte dos ativistas angolanos não estão envolvidos nestes escândalos.
“É preciso que entendam que não são a maioria dos ativistas. São alguns dos activistas cujo número ronda entre 20 e 25. Quantos ativistas tem o país? Centenas. Então, não é por causa de uma vintena de mercenários que podemos concluir que o ativismo está comprometido”, frisa Nuno Dala.
“A maior parte continua a fazer uma luta honesta com maiores ou menores dificuldades”, acrescenta.
O presidente do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, também afirma que o pagamento de subornos por parte de pessoas ligadas às autoridades governamentais é prática recorrente.
“Quem ganha no meio disto tudo não são os ativistas. Quem mais ganha são os intermediários. São eles que andam atrás dos ativistas para que vendam as manifestações”, comenta.
“Não creio que o Presidente da República sabe disso. Estamos a pensar endereçar uma carta ao Presidente da República para pôr fim a este assunto”, refere.
Uma mancha na reputação dos activistas
Léo Paxi, activista ambiental no Uíge, sublinha que estes subornos ameaçam o propósito da maioria dos jovens angolanos que lutam por uma Angola melhor.
“Por isso é que não devemos tolerar questões do género. Temos que continuar a denunciar esses mercenários. Há muita gente a morrer pela luta. Inocêncio é alguém que morreu na luta de todos nós. Não podemos deixar que um grupo de chicos-espertos venha a beneficiar-se de forma ilícita em nome do ativismo”, frisa.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição, é apontada como sendo uma das financiadoras dos protestos anti governo. Contudo, os ativistas ouvidos pela DW África negam qualquer influência da oposição na realização das manifestações.
“Não se conhecem da UNITA atos de corromper manifestantes para não realizar manifestações. Logo essa referência ainda não está devidamente explicada”, disse fonte daquele partido.
“Se nós soubéssemos alguma coisa, estaríamos aqui a denunciar”, acrescentou, por outro lado, Francisco Teixeira.