O governo do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está atrelando a abertura da economia à proposta de reforma tributária. Para comentar o assunto, a Sputnik Brasil ouviu um economista do Mackenzie, que afirmou que a abertura pode ser melhor com a reforma e beneficiar a recuperação econômica do país.
O secretário executivo do Ministério da Economia brasileiro, Marcelo Guaranys, declarou que o governo entende que a abertura da economia brasileira está atrelada ao avanço da reforma tributária no país. Segundo Guaranys, o avanço simultâneo das agendas visa não prejudicar as empresas brasileiras, conforme publicou a agência Reuters.
Para o economista Josilmar Cordernonssi, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, a economia do Brasil tem um desequilíbrio em relação aos tributos que precisa ser corrigido para garantir uma abertura econômica adequada.
“O problema é que o nosso sistema tributário é muito baseado em consumo – mais do que a renda, como é lá fora – e pesa muito mais sobre a indústria do que outro setor que pode importar e exportar, que é o setor agrícola. Então existe um certo desequilíbrio e seria desejável fazer uma reforma tributária mais justa antes de abrir a economia brasileira”, avalia o economista em entrevista à Sputnik Brasil.
O professor do Mackenzie aponta que dificilmente o país poderá abrir sua economia em “condições perfeitas” e que sempre haverá setores que se dizem despreparados para a competição com o mercado externo. Para ele, no entanto, já há uma competição interna e o que deve acontecer em uma eventual abertura econômica é a concentração de recursos em determinados setores.
“Naturalmente a abertura econômica vai provocar uma certa concentração dos setores econômicos. O que a gente precisa questionar é se essa concentração é justa ou não. Geralmente os impostos incidem muito menos na agricultura – a agricultura tem uma série de subsídios em relação à indústria. Então tem uma série de desequilíbrios entre os setores, que precisam ser discutidos antes da abertura”, alerta.
Cordernonssi acredita que a declaração do secretário executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, pode ser uma forma de pressionar o próprio governo Bolsonaro, uma vez que, segundo o economista, a reforma é bem aceita pelo Congresso Nacional.
Abertura e recuperação da crise econômica
O economista também avalia que em meio à crise econômica imposta pela pandemia da COVID-19 no Brasil, a abertura da economia pode ser benéfica ao movimento de recuperação econômica do país, que espera uma forte queda no PIB em 2020.
“Com o cenário da pandemia, eu acredito que a maior abertura econômica facilitaria a nossa retomada, especialmente fazendo acordos, ou aprofundando acordos de livre comércio, como já fizemos com a União Europeia. Se nós estivéssemos em um processo mais avançado de ratificação dos parlamentos, a gente poderia aproveitar a rápida retomada econômica que a União Europeia está tendo em relação a outros países do Ocidente”, afirma.
Cordernonssi aponta ainda que o Brasil poderia se beneficiar nesse processo adotando uma aproximação com as economias da Ásia.
“E também se nós abríssemos nossas economias mais para os países asiáticos, que estão retomando a economia a um ritmo mais forte, nós estaríamos em melhor posição”, conclui.