Uma vacina para malária apresentou eficácia de 77% em testes iniciais na Universidade Oxford, no que pode se converter em um grande avanço de saúde pública na luta contra uma doença que mata mais de 400 mil pessoas por ano – a maioria delas na África Subsaariana.
No Brasil, foram registados 157,4 mil casos de malária em 2019, concentrados principalmente na região Norte, com estimadas 37 mortes.
Já existem programas piloto de vacinação a contra a doença, mas nenhum imunizante até agora havia conseguido índices similares de eficácia.
Daí o optimismo com os resultados apresentados por Oxford nesta sexta-feira (23/4): em um teste feito com 450 crianças em Burkina Faso, na África, o imunizante apresentou segurança e “alto nível de eficácia” nos 12 meses seguintes a sua aplicação. O artigo publicado ainda está na fase pré-print, ou seja, não foi revisado por outros cientistas.
Testes mais amplos, com quase 5 mil crianças entre 5 meses e 3 anos de idade, serão realizados a partir de agora em quatro países africanos, para confirmar ou não as descobertas.
Malária é uma doença que pode ser fatal, causada por parasitas transmitidos a humanos pelo mosquito Anopheles. Embora seja evitável e curável, a doença afetou 229 milhões de pessoas em 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), causando 409 mil mortes.
Os sintomas iniciais são febre, dor de cabeça e calafrios; se não for tratada, a doença evolui rapidamente para um quadro mais grave que pode se tornar fatal. Na África, a doença é um dos principais responsáveis por mortes na infância.
Impacto de saúde pública
Segundo Adrian Hill, professor de imunologia na Universidade de Oxford e coautor do estudo sobre a vacina contra a malária, diz acreditar que o imunizante é o primeiro a ultrapassar o limiar de 75% definido como meta pela OMS.
Os testes com a vacina da malária começaram em 2019, bem antes da aparição do novo coronavírus – e a equipe de Oxford desenvolveu sua vacina contra o coronavírus (hoje sendo aplicada também no Brasil) em cima das pesquisas feitas sobre a malária, prossegue Hill.
O pesquisador agrega que a vacina contra a malária anda em ritmo mais lento do que a da covid-19 porque envolve cerca de mil genes – contra cerca de uma dúzia do coronavírus. Portanto, uma resposta imune muito alta é necessária para combater a doença.
“Isso é um desafio técnico grande”, explica Hill. “A vasta maioria das vacinas não funcionou porque (superar isso) é muito difícil.”
Dito isso, ele afirma que a descoberta em Oxford “tem o potencial de produzir um grande impacto de saúde pública”.
No estudo pré-print na publicação The Lancet, Hill e sua equipe – em Oxford, nos EUA e em Burkina Faso – testaram doses altas e baixas do imunizante entre maio e agosto, pouco antes do pico na temporada anual da malária.
A vacina apresentou eficácia de 77% no grupo que tomou a dose alta e 71% no grupo com a dose baixa.
São resultados “muito animadores” com “índices de eficácia sem precedentes”, afirmou Hilidou Tinto, professor de parasitologia e principal pesquisador dos testes clínicos em Burkina Faso.
“Estamos ansiosos pelos testes de fase 3 para demonstrar a eficiência e segurança em grande escala, para uma vacina muito necessária nesta região.”
O Instituto Serum, empresa indiana que fabricou a vacina, afirmou que, assim que o imunizante tiver aprovação de agências regulatórias, será capaz de produzir mais de 200 milhões de doses.