Numa intervenção no Forum Angola, organizado pelo Instituto Real de Relações Internacionais Chatham House, o dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição, argumentou que “as autarquias têm a vantagem de resolverem os problemas do dia a dia da comunidade”.
Rafael Savimbi defendeu que os partidos políticos devem entender-se nesta matéria e mostrou-se aberto à participação de independentes ou de organizações da sociedade civil.
“Os não partidários têm de estar também na consideração dos partidários porque muitas vezes é de lá que virá a solução. Este fator contribui para a inclusão política, mas também económica”, afirmou.
No mesmo painel, André Gaspar Mendes de Carvalho, dirigente da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), concordou com a necessidade das eleições autárquicas, “que levarão à descentralização do poder e a uma melhor distribuição da riqueza com maior inclusão”.
Sizaltina Cutaia, diretora da Fundação Open Society Angola (Osisa), também exortou João Lourenço a “investir na descentralização e a avançar para eleições locais o mais cedo possível”, processo que considera crucial para desbloquear vários problemas a nível local.
“Não é possível desenvolver um país com uma estrutura tão centralizada, porque essa estrutura retira a oportunidade de participação das pessoas. Não se pode ter desenvolvimento quando tudo no país depende de um homem, independentemente da sua qualidade e boas intenções”, disse.
A Osisa faz parte da Fundação Open Society, fundada pelo investidor e filantropo George Soros, que apoia projetos ligados à educação, direitos humanos e democracia.
A realização de eleições autárquicas, planeadas para 2020, mas adiadas devido à pandemia de covid-19, está entre as reivindicações de uma série de manifestações recentes em Luanda.
Um estudante de 26 anos morreu na sequência de confrontos entre polícia e os grupos de jovens que queriam manifestar-se pela melhoria das condições de vida e eleições autárquicas em 2021 em 11 de novembro.
Os dois políticos e a ativista social falaram na segunda sessão do Forum Angola, evento realizado este ano em forma ‘virtual’, que tem no programa o debate das reformas e prioridades políticas para promover a recuperação económica de Angola devido à pandemia de covid-19 e à queda dos preços do petróleo, setor do qual a economia do país depende.
Uma intervenção do Presidente da República de Angola, João Lourenço, inicialmente anunciada foi entretanto cancelada.
O evento decorre até terça-feira e vai incluir intervenções de dirigentes de organizações oficiais e da sociedade civil e de partidos políticos.