25.3 C
Loanda
Terça-feira, Novembro 26, 2024

“A minha maior preocupação é o resgate da família são-tomense”

PARTILHAR
FONTE:RFI

Guilherme Posser da Costa é o candidato do MLSTP-PSD às eleições presidenciais de São Tomé e Príncipe, marcadas para 18 de Julho e nas quais concorrem 19 candidatos. Em entrevista à RFI, o candidato diz que a sua maior preocupação “é o resgate da família são-tomense”.

RFI: O senhor é o candidato apoiado oficialmente pelo MLSTP-PSD, partido que há cerca de 20 anos não consegue eleger um Presidente da República. Não receia que a história se volte a repetir?

Guilherme Posser da Costa: Eu não tenho qualquer tipo de receios desta natureza, nem me deixo influenciar psicologicamente por esses factos. As candidaturas presidenciais são candidaturas unipessoais- isso depende muito da pessoa que se candidata- independentemente dos apoios.

Quero aproveitar para agradecer ao MLSTP-PSD, pelo apoio que dá à minha candidatura, mas não quero fazer qualquer paralelismo, relativamente aos outros insucessos que tenham havido no passado.

Há outros candidatos do MLSTP-PSD que concorrem nesta eleição. Esta situação não pode dispersar os votos?

Inevitavelmente que sim. Não posso fugir de maneira alguma a esta questão e responder com ambiguidades. É certo que vai haver, porque são figuras de proa do partido -independentemente de eventuais disciplinas, ou não disciplinas partidárias- há relações familiares que levarão algum eleitorado do MLSTP-PSD a votar nos outros candidatos.

Concorda com o facto do partido ter vindo dizer que vai sancionar os candidatos, membros MLSTP-PSD, que se tenham apresentado nesta eleição?

Eu não me quero pronunciar sobre isso, porque se trata de uma questão interna do partido. Como deve imaginar, o partido tem estatutos e rege-se por esses estatutos. Neste momento, eu sou o candidato e gostaria de não me pronunciar sobre esse facto.

O slogan da sua campanha é “Harmonia e Progresso”. Que política vai apresentar ao povo de São Tomé e Príncipe e à diáspora?

Eu não faço qualquer diferenciação entre o povo são-tomense e a diáspora. Eu considero que todo e qualquer cidadão, seja ele um cidadão são-tomense, que esteja na Mongólia ou onde quer que esteja, deve merecer por parte do Presidente da República toda a sua atenção, de forma a fazer com que a sua vida possa ser a melhor possível.

Tenho preocupações prioritárias no meu mandato, uma delas será seguramente a juventude. Somos um país extremamente jovem, esta é uma realidade a que nenhum político- que quer exercer o cargo de Presidente da República- deve fechar os olhos. Eu acredito que é sobre esta realidade que nós devemos partir para o futuro. Devemos, por isso, dar uma atenção muito especial à juventude.

Quando diz que a sua prioridade será a juventude refere-se a políticas de criação de emprego e de formação?

Não só, mas também. O primeiro emprego jovem é uma das minhas preocupações. Os jovens sonham hoje em ter uma família, como eu já tive e sonhei quando era jovem. Os jovens sonham ter uma formação, sonham ter um emprego, como eu tive.

O jovem hoje, como fui eu no meu tempo, é um jovem sonhador. Mas não é sonhador de aspirações inatingíveis. São aspirações que eu, enquanto Presidente da República terei que me preocupar. Por esse facto, irei criar na presidência da república um conselho da juventude.

O senhor afirma que a reforma Justiça será outra das suas prioridades. Qual é a sua proposta?

A reforma da Justiça tem sido um apanágio nos vários governos. Várias propostas e estudos já foram feitos- todos nós já temos o diagnóstico- e agora temos de passar à prática. Quero falar da Justiça numa perspectiva transversal- não falo da Justiça como todos os outros órgãos que contribuem para uma sociedade justa- falo dos outros órgão que prevêem que haja segurança, no que diz respeito à criminalidade.

Desde uma boa polícia judiciária, que prevê os crimes antes de acontecerem, até à polícia nacional, que vela pela ordem pública e integridade física dos cidadãos e dos bens- até chegarmos à Justiça dos tribunais. Porque quando chegamos à Justiça dos tribunais e há um erro- que eu considero um erro- focalizamos muitas vezes na necessidade de se fazer Justiça na Justiça que é feita pelos tribunais.

E esta [Justiça] é quase o fim da cadeia. A Justiça tem todo um início que, muitas vezes, passa pelas instituições não formais da Justiça, como é o caso da própria família.

O abuso sexual, a violência doméstica, o consumo de droga e a corrupção são flagelos que atingem o país. O que pode fazer o chefe de Estado para resolver estes problemas?

Existe uma certa tendência para se dizer que o abuso sexual faz parte da cultura do povo são-tomense, isto é uma aberração completa, não é cultura nenhuma.

O abuso sexual tem de ser combatido em várias vertentes. O meu projecto é a família, uma das minhas maiores preocupações é o resgate da família são-tomense. Porque a família são tomense que eu conheci não teria esse tipo de desvios, que estão a acontecer agora. Por isso é que eu digo que, todos nós, temos de estar envolvidos em qualquer actividade que considerarmos benéfica para todo e qualquer cidadão são-tomense.

São Tomé e Príncipe é considerado como um dos países mais pobres do mundo e também um dos mais endividados, sendo que 50% do Produto Interno Bruto é assegurado pela comunidade internacional. A situação foi agudizada pela pandemia de Covid-19. Que papel deve exercer o chefe de Estado para reduzir esta dependência?

Essa dependência só é diminuída se nós conseguirmos que o nosso PIB nacional, a nossa riqueza nacional, cresça. E eu, enquanto Presidente da República, já o fiz quando fui primeiro-ministro. Apostei em três sectores: a agricultura, o turismo e a pesca, que são sectores para os quais não precisamos de grande investimento.

Nós não somos um país rico em minério, o petróleo ainda é uma quimera, mas temos um país deslumbrante, sob o ponto de vista paisagístico. O turismo tem de ser um dos vectores de desenvolvimento económico e, consequentemente, de criação da riqueza nacional.

A criação da riqueza nacional faz-se apostando em propostas exequíveis e propostas que possam, efectivamente, ter um impacto positivo no crescimento da economia nacional.

Na minha magistratura de influência, eu vou contar com todos os institucionais e com todos os são-tomenses, porque fazer crescer o país com todas essas dificuldades- que referiu há pouco- não é obra de um único órgão de soberania. Tem de ser uma obra de todos, pois só com todos construímos o país.

Em São Tomé e Príncipe praticamente todos os poderes estão na mão do primeiro-ministro. Se for eleito chefe de Estado a sua presidência será marcada pelas boas relações com o chefe do executivo, mesmo na eventualidade deste poder ser de outro partido?

Com certeza. Quando falo disso, não falo por mera retórica ou qualquer intuito eleitoralista. Quando fui primeiro-ministro era de uma família política e o Presidente da República era de outra família política e entendemo-nos bem, conseguimos ter uma relação cordial, institucional de Estado que nos permitiu identificar as necessidades do nosso povo.

Independentemente de qualquer que seja o governo que esteja no poder- porque a escolha é do povo- eu tenho de aceitar e tenho que procurar ter com esse governo uma cooperação estreita, institucional e global para que todos possamos construir São Tomé e Príncipe.

Acredita que será o próximo Presidente de São Tomé e Príncipe?

Eu não acredito, eu tenho a certeza absoluta.

spot_img
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
spot_imgspot_img
ARTIGOS RELACIONADOS

Operação de resgate de 41 trabalhadores indianos celebrada com festa na Índia

Na Índia, depois de mais de duas semanas, todos os 41 trabalhadores soterrados num túnel rodoviário que desmoronou no...

Governo do Moxico assegura resgate da mística do lago Dilolo

Com uma altitude média de 1098 metros acima do mar, o lago Dilolo é o terceiro maior de África,...

Unicef manifesta preocupação com uso de crianças-soldados por terroristas em Cabo Delgado

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) reiterou na terça-feira, 16, a sua preocupação com o uso...

Clima de crispação entre MPLA e UNITA gera preocupação em Angola

A um ano das presidenciais em Angola, sociedade civil e classe política alertam para o facto de mal-estar entre...