As Cidades são por excelência pontos de encontro diversos e igualmente são estradas que geram encontros com a Memória. Evocar a Memória sobre factos ou Pessoas silienciadas muitas vezes intencionalmente pelas circunstâncias do Tempo e de Tempos criados, é um caminho para quebrar o Silêncio e reencontrar os Olhares diversificados sobre esses factos e essas Pessoas que habitam a gaveta da Identidade Cultural, o Sentido de Pertença e de um Percurso percorrido.
Nesse sentido, somam-se palavras a outras tantas palavras para Relembrar, Reflectir, Sentir o Tempo e o Espaço percorrido e vivido para justamente Não Esquecer a importância da Memória e o que vive dentro dela. ” Mandei-lhe uma Carta “, é a designação genérica que irá acolherr na cidade do Porto, o Colóquio Internacional com vários investigadores para falar sobre a ” Obra Poética e o Pensamento Político de Viriato da Cruz ( 1928-1973). É uma justa Homenagem e viagem no Tempo do Poeta e Político angolano Viriato Clemente da Cruz. Decorrido todo este tempo, o Centro de Investigação Transdisciplinar, Cultura, Espaço e Memória da Faculdade de Letras da Universidade do Porto abriu as portas para que durante dois dias ( 22 e 23 de Junho ), as letras multipliquem Palavras para Celebrar ” Uma Força de Amor à Humanidade ” ( primeira Sessão que tem como intervenientes José Carlos Venâncio, Aida Gomes, António Quino e José Pedro Monteiro.
O primeiro orador falará sobre ” A Força de Makézu na Relação entre Arte e Politica. O Lugar de Viriato da Cruz “, seguindo-se a segunda oradora com a comunicação ” Uma Angola imaginada na poética de Viriato da Cruz ” e finalmente ” Viriato da Cruz: Menina da Roça: o Fascínio da Política no Pensamento Político ” e ” Um Percurso Irregular? Viriato da Cruz e os desafios de escrever uma História Global da Descolonização “.
Entre afirmações e perguntas, todas as Palavras escritas e ditas neste reencontro com a Memória leva-nos a percorrer o painel ( o segundo do Colóquio ) para contemplar, recuar no Tempo vivido do Poeta Viriato da Cruz ” Ante a Beleza das Coisas e dos Homens ” que são imensas e nessa variante o autor da comunicação incorre em reflexões e nesse sentido os investigadores Francisco Noa faz recair o seu pensamento ” Na Encruzilhada de Sons, Cores e Humanismo em Viriato da Cruz e Noémia de Sousa “, para que Fátima Mendonça evoque que ” Viriato da Cruz e Noémia de Sousa: Correspondência Perdida “, atravesse os horizontes que ninguém espera. Mas nesta legitima espera e de continuidade analítica, Ama Maria Mão-de-Ferro Martinho deixa a pergunta profunda e cito ” De Quantas Línguas se Faz um Poema ? “. Eu acho que se podem fazer de ” Várias Linguas ” múltiplos Poemas e o Nacionalista angolano Viriato da Cruz abraçou e fixou no papel e nos Poemas que criou, a importância da sua Identidade Cultural , do seu Pensamento Político e do Olhar Universal sendo Angola e o Mundo epicentro poético da sua criação literária . Basta reler os seus belissimos Poemas. E cito” como a Esperança…em nós outros teus filhos,gerando,formando,anunciando – o dia da Humanidade,
O DIA DA HUMANIDADE…” como referido no Poema “Mamã Negra” (Canto de Esperança).
Mas da pergunta formulada da terceira ordora no painel ” Ante a Beleza das Coisas e dos Homens”, ressurge a afirmação e o tema ” Imagens da Busca da Felicidade na Obra de Viriato da Cruz “. Lendo o Poema o ” NAMORO ” ou ” MAKÈZÚ”, está identificada a janela literária do Olhar sentido do Poeta Viriato da Cruz.
Neste rumo inesgotável desta justissíma Homenagem a Viriato da Cruz centrada no domínio poético e político, as duas últimas sessões do primeiro dia de trabalhos tem como título genéricos ” Drama de Carne e Sangue ” e ” A Gente Grande com Gosto Ri “. Desta diversidade temática , Jodie Yuzhou Sun , tem como abordagem “A Single Sparks can Start a Prairie fire’: Viriato da Cruz and his Chinese Exile”, para Michel Cahen não deixe salientar o tema “Relendo o “Manifesto do MPLA”: amplo Movimento ou Partido de Vanguarda no Pensamento Político de Viriato da Cruz?”.
Sobre a pergunta de Michael Cahen o Devir dos Dias não deixará de dar respostas e Regina Queiroz abordará ” A Influência do Iluminismo no Pensamento Político de Viriato da Cruz” para que Moisés Fernandes não deixe de reflectir sobre “Viriato da Cruz : Novos Descobrimentos nos Últimos Anos de Vida , 1967-1973”.
Este primeiro Colóquio Internacional sobre o Poeta e Nacionalista angolano Viriato da Cruz evidência claramente a visão da Comissão Organizadora e nas escadas do Tempo e de um longo Silêncio, o primeiro dia encerra os trabalhos com intervenções de Rita Chaves que não esqueceu a “Luuanda” de ” Viriato da Cruz e a sua Poesia”, para que modo identitário fale na “Fotografia dos Musseques na Poesia de Viriato da Cruz” e Lívia Spa rumo ao entardecer portuense na Faculdade de Letras do Porto abrace as palavras da sua intervenção com “Viriato da Cruz e a Rotura do Universal pela Voz do Povo “. O Povo a que pertenceu por mérito próprio e justamente inquietante.
E entre as palavras e as falas, o Poema lindíssimo o “NAMORO” escrito em “papel perfumado “( só Viriato da Cruz o sentiu), Liliana Mourão interpretará musicalmente o sentido singular e infinito de ” um sorrir luminoso tão quente e gaiato” para que se ouça o Recital de Régia Correia.
Voltando à viagem entre 25 de Março de 1928 ( data de nascimento de Viriato da Cruz), passando por Porto Amboim ( actual Sumbe e a cidade onde nasceu), percorremos Luanda e o seu Imaginário, o Exílio, a China e outras anteriores paragens para que chegados à histórica cidade do Porto, ouçamos Salvato Trigo para registar a audição de “Viriato da Cruz: da Poética Política à Política da Poética ou de como em “MAKÈZÚ”, se resolvem a Diglossia e o Drama Linguístico do Colonizado”.
Antes, as portas do Campo Alegre( espaço primeiro onde nasceu a Faculdade de Letras da Universidade do Porto ), as palavras de Paula Costa Pinto , Directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Inês Amorim, Coordenadora do Centro de Investigação Transdisciplinar, Cultura, Espaço e Memória, Nelson Pestana, da Comissão Viriato da Cruz e Regina Queiroz, Representante da Comissão Organizadora abrem Espaço à Memória para Pensar e Relembrar a “Obra Poética e o Pensamento Político de Viriato da Cruz ( 1928-1973 ). São as Estantes da Vida e de um Olhar mais que Justo sobre a narrativa do Pensamento do Poeta angolano Viriato da Cruz.
Não há Futuro sem Memória e o presente descodifica os necessários Olhares para revisitar o Passado projectando a construção do Futuro.
Gabriel Baguet Jr
Jornalista/Escritor