RFI | Carina Branco
A alemã Ursula von der Leyen fez história, esta terça-feira, ao ser eleita Presidente da Comissão Europeia, com 383 votos dos eurodeputados, apenas nove acima do necessário. Paulo Rangel, vice-presidente do grupo parlamentar do PPE, votou a favor porque acredita que ela vai fazer “um mandato totalmente pró-europeu”. Francisco Guerreiro, que integra o grupo dos Verdes, votou contra por falta de “metas claras em como descarbonizar a economia”.
Para ver confirmada a sua nomeação para a presidência da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen precisava de uma maioria de deputados, ou seja, pelo menos 374. Foi eleita à tangente, com 383 votos. À partida, contava com os votos do seu grupo parlamentar, o PPE, com 182 assentos [apesar de críticas vindas dos deputados alemães deste grupo relativas ao seu mandato como ministra da Defesa no seu país]; dos 154 socialistas e dos 108 liberais do grupo Renovar a Europa. Porém, um terço dos socialistas virou-lhe as costas e os Verdes (74) recusaram votar nela.
Voto a favor: A justificação do eurodeputado português Paulo Rangel
O social-democrata Paulo Rangel, vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Popular Europeu, votou nela porque acredita que ela vai fazer “um mandato totalmente pró-europeu”.
“Votei a favor porque a candidata Ursula von der Leyen dá todas as garantias de fazer um mandato totalmente pró-europeu, um mandato que tem capacidade de congregar as várias forças políticas pró-europeias. Ela deu sinais, no fundo, de integrar no seu programa aspectos e dimensões de todos os partidos e grupos políticos que são pró-europeus porque revelou ser uma pessoa com visão para a Europa, com carisma, com conhecimento dos dossiers e não havia nenhum motivo para abrir agora uma crise institucional, pelo contrário. Também é um grande sinal para a Europa ter a primeira mulher presidente da Comissão”, afirmou.
Relativamente ao número de votos, à tangente, para validar Ursula von der Leyen, Paulo Rangel justifica que isso reflecte “um processo intrincado de nomeação do presidente da Comissão que foi realmente um pouco difícil” e “a fragmentação partidária”. Por outro lado, o eurodeputado argumenta que a eleição “tão à justa” tem a vantagem de obrigar Ursula von der Leyen “a ter em conta a opinião do Parlamento”.
“Eu, sinceramente, acho que num resultado tão à justa, tão à tangente, também há uma vantagem. E qual é a vantagem? É que a nova presidente ficou a saber que vai ter de negociar com o Parlamento, vai ter de ter em conta a opinião do Parlamento. Isto, portanto, também reforça o poder, a influência e capacidade de marcar as políticas da Comissão que o Parlamento passa a ter”, acrescentou.
Voto contra: A justificação do eurodeputado português Francisco Guerreiro
O eurodeputado português do PAN, Francisco Guerreiro, que integra o grupo dos Verdes, votou contra por falta de “metas claras em como descarbonizar a economia e em como melhor distribuir a riqueza”.
“Não conseguimos da parte da candidata, agora presidente da Comissão, metas claras em como descarbonizar a economia, em como melhor redistribuir a riqueza, em como melhor garantir os direitos fundamentais e o caminho que nós também almejamos para a nossa União Europeia”, declarou.
Ainda que Ursula von der Leyen tenha levado ao discurso desta terça-feira, no Parlamento Europeu, a promessa de um “Acordo Verde” e de neutralidade carbónica em 2050, isso não bastou para Francisco Guerreiro.
“Mais do que retórica, nós gostaríamos de saber como é que ele será implementado porque falar bonito todos nós falamos e nós percebemos isso (…) Houve claramente uma alteração positiva no discurso e obviamente que foi um discurso para agradar a larga maioria do Parlamento Europeu mas, no fundo, não concretizou como é que conseguiria fazer essa transição, nomeadamente para 2030, não tanto para 2050”, afirmou.