Antes de abordar o tema deste artigo, é necessário esclarecer a nossa posição sobre a ação climática. As acções de adaptação climática são essenciais para ajudar os países a lidar com o impacto negativo da mudança climática. As acções de mitigação climática são essenciais para moldar a economia do futuro e evitar uma catástrofe global.
Os países africanos têm razão quando pedem compensações aos países desenvolvidos para enfrentar a adaptação climática, porque a contribuição da África para a situação atual é marginal enquanto eles têm de enfrentar as consequências. Mas a África precisa de se envolver a fundo com a comunidade internacional nas questões relacionadas com a mitigação climática e definir políticas certas para melhorar o ambiente de negócios para atrair investimentos nas acções de mitigação climática. Sem uma política coerente que possa atender às duas dimensões da acção climática, o continente corre o risco de ser marginalizado.
Dito isso, é preocupante constatar que a situação atual dos investimentos em acções de mitigação climática em Africa é confrangedora.
O investimento em energia renovável na África caiu para o nível mais baixo em mais de uma década no ano passado, apesar do enorme potencial do continente.
Apenas US$ 2,6 bilhões de capital foram comprometidos com novos projetos de geração de energia eólica, solar, geotérmica e outros projetos de geração de energia renovável em 2021, o menor nível de financiamento em 11 anos, disse o grupo de pesquisa BloombergNEF (BNEF). Isso representou apenas 0,6 % dos US$ 434 bilhões investidos em energia renovável em todo o mundo.
Os investimentos em energia renovável aumentaram 9% em todo o mundo entre 2020 e 2021, atingindo um recorde, mas caíram 35% na África.
Os investimentos também estão concentrados em alguns países. Tirando o Egito e Marrocos, só dois países da Africa subsaariana, o Quênia e a África do Sul, receberam investimentos importantes em energia renovável. Os quatro países juntos receberam três quartos do total do continente africano.
Esta situação representa um grande desafio para África, numa altura em que se renova o interesse dos países desenvolvidos pelo continente africano por causa dos minerais considerados essenciais para as novas tecnologias que permitem a transição climática.
A África não pode se contentar em atrair investimentos apenas na exploração mineira. Ela deve aproveitar para afirmar os seus interesses em ações de mitigação climática na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), no final de novembro de 2023, em Dubai. Para isso, o continente também deve adotar políticas consistentes que lhe permitam atrair investimentos públicos e privados.
Por: José Correia Nunes
Director Executivo Portal de Angola