Os presidentes de Estados Unidos, Joe Biden, e China, Xi Jinping, chegaram a Lima nesta quinta-feira (14) para o que pode ser seu último tête-à-tête, à margem de uma cimeira da Ásia-Pacífico marcada por incertezas sobre o comércio global.
Biden e Xi se encontrarão no sábado ao término da reunião anual do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), envolta em nervosismo por uma escalada na guerra comercial entre as duas superpotências sob a nova era de Donald Trump.
Xi chegou algumas horas antes de Biden para participar da inauguração do megaporto de Chancay, uma obra bilionária que a China financiou, cerca de 80 km ao norte de Lima.
A reunião bilateral entre ambos os líderes será provavelmente a última antes de Biden devolver a Trump as chaves da Casa Branca em janeiro.
Além disso, a conversa acontece em meio a tensões pelo apoio da China à Rússia em sua guerra contra a Ucrânia.
Os dois líderes, que chegaram a acordos sobre combate às drogas e melhoria da comunicação militar na reunião anterior em São Francisco, nos Estados Unidos, participarão da cimeira do G20 na próxima segunda e terça-feira no Brasil.
Com o lema “Empoderar, Incluir, Crescer”, a cimeira em Lima teve início nesta quinta com reuniões ministeriais a portas fechadas com participação de representantes de Japão, Coreia do Sul, Canadá, Austrália e Indonésia, entre outros, segundo os organizadores.
– Protagonista ausente –
À margem da cimeira da Apec, Xi se reuniu com a presidente peruana, Dina Boluarte, em uma visita de Estado.
Durante o encontro na sede do governo peruano, no centro de Lima, o mandatário chinês destacou a entrada em operação do porto de Chancay em breve, cujo custo chegará a 3,5 bilhões de dólares.
“A China está disposta a trabalhar com a parte peruana para tomar o porto de Chancay como ponto de partida, estabelecer um novo corredor terrestre marítimo entre China e América Latina”, disse Xi antes da inauguração.
Embora não participe da cimeira, o interesse gravitará em torno de Trump, que retorna à Presidência dos Estados Unidos após uma vitória esmagadora nas eleições de 5 de novembro, nas quais seu partido também ganhou o controle do Congresso.
“Acho que a única coisa sobre a qual os líderes da Apec e do G20 deverão falar é sobre o único líder mundial que não vai estar lá, Donald Trump”, disse Victor Cha, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), com sede em Washington.
As conversas vão girar em torno do que “esperar do novo governo Trump em termos de comércio, alianças e outras questões”, acrescentou o especialista à imprensa.
– Falcão para a China –
Na quarta-feira, o presidente eleito nomeou o senador republicano Marco Rubio, defensor de uma postura linha-dura em relação à China e ao Irão, para chefiar a diplomacia dos Estados Unidos.
Criado em 1989, o fórum da Apec defende o comércio sem barreiras, uma agenda que vai contra a promessa de campanha de Trump de impor tarifas de até 60% sobre as exportações da China.
Sua retórica aumenta os temores de tensões crescentes entre Washington e Pequim, justo quando se prevê que o PIB da aliança Ásia-Pacífico deverá diminuir de 3,5% em 2024 para 3,1% em 2025.
Também membro da Apec, o México ultrapassou o gigante asiático como o principal parceiro comercial dos Estados Unidos no ano passado.
No entanto, Trump também ameaçou seu vizinho do sul com tarifas de 25% se este não conter a migração irregular e o tráfico de drogas através da vasta fronteira.
O republicano também alertou que poderia impor “uma tarifa geral de 10% a 20% sobre produtos estrangeiros”, observou a pesquisadora do CSIS, Erin Murphy.
A presidente mexicana Claudia Sheinbaum não participa da reunião em Lima devido a desencontros diplomáticos entre México e Peru no passado.
– ‘Mais protestos’ –
Nesta quinta-feira, pelo segundo dia consecutivo, dezenas de transportadores e comerciantes protestaram em Lima contra a criminalidade.
“Queremos que a comunidade internacional saiba que estão nos matando, não há uma política para lutar frontalmente contra o crime organizado e a insegurança pública”, disse à AFP Walter Carrera, presidente da Associação Nacional de Transportadores (Asotrani).
A manifestação aconteceu nas imediações do centro de convenções onde se desenvolvem as discussões da Apec.
Lima foi blindada com cerca de 13 mil soldados da polícia para proteger a terceira cimeira do bloco econômico que sedia desde 2008.
Além disso, o Congresso autorizou a entrada temporária de até 600 militares americanos para apoiar nas tarefas de segurança.