O imenso potencial económico de África está a ser minado por empréstimos não transparentes garantidos por recursos que complicam a resolução da dívida e comprometem o crescimento futuro dos países, disse o Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina.
“Acho que é hora de termos responsabilidade pela transparência da dívida e garantir que toda essa coisa desses empréstimos opacos garantidos por recursos naturais realmente acabe, porque complica a questão da dívida e a questão da resolução da dívida”, disse Adesina à jornalista Yinka Adegoke na Cimeira da Economia Mundial da Semafor, à margem das Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, em Whasignton, na semana passada.
Adesina já tinha criticado em março, em tons muito duros, os empréstimos ligados aos recursos naturais de África.
Adesina destacou os desafios colocados pela crescente dívida externa de África, que atingiu 824 mil milhões de dólares, com os países a dedicarem 65% do seu PIB ao cumprimento destas obrigações. Ele disse que o continente pagaria 74 mil milhões de dólares em pagamentos do serviço da dívida só este ano, um aumento acentuado em relação aos 17 mil milhões de dólares em 2010.
Embora reconhecendo as pressões fiscais enfrentadas pelas nações africanas devido à pandemia da Covid-19, às necessidades de infra-estruturas e ao aumento da inflação, Adesina enfatizou a necessidade de abordar as questões estruturais no panorama da dívida de África.
Salientou a mudança do financiamento concessional para uma dívida comercial mais cara e de curto prazo, com a dívida Eurobond a representar agora 44% da dívida total de África, acima dos 14-17% anteriores.
Criticou também o “prémio de África” que os países pagam quando acedem aos mercados de capitais, apesar dos dados mostrarem que as taxas de incumprimento de África são mais baixas do que as de outras regiões. Ele apelou ao fim desta percepção de risco, que, segundo ele, leva a custos de financiamento mais elevados para as nações africanas.
O responsável do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) sublinhou a importância de implementar uma forma ordenada e previsível de lidar com a dívida de África, apelando a uma implementação mais rápida do Quadro Comum do G20.
Ele também destacou a necessidade de aumentar o financiamento concessional, especialmente para os países de baixa renda. “O que é particularmente interessante em África é que o próprio nível de financiamento concessional diminuiu, e diminuiu significativamente”, disse ele, acrescentando que o Fundo Africano de Desenvolvimento – o braço de empréstimos concessionais do BAD aos países de baixo rendimento – está a fornecer empréstimos de longo prazo a taxas de juro baixas aos 37 países mais vulneráveis.
Adesina discutiu vários instrumentos e iniciativas utilizados pelo Banco Africano de Desenvolvimento para reduzir o risco de projetos e atrair investidores institucionais, tais como garantias parciais de crédito, capital híbrido e titularização sintética.
Olhando para o futuro, Adesina expressou optimismo sobre as oportunidades em África, particularmente nas energias renováveis, dado o vasto potencial solar do continente. Destacou também o Fórum de Investimento em África, uma plataforma criada pelo Banco e pelos seus parceiros, que reúne investidores de todo o mundo para facilitar investimentos em grande escala em sectores-chave como infra-estruturas, energia digital e energia renovável.
“África é o melhor destino de investimento do mundo”, concluiu Adesina, enfatizando o compromisso do Banco Africano de Desenvolvimento em criar um ambiente propício para que os investimentos prosperem.
Por Editor Económico
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