Ao elencar as três prioridades da presidência brasileira do G20, o ministro das Relações Exteriores do Brasil Mauro Vieira anunciou, na abertura da reunião de diplomatas do G20 que se realiza no Rio de Janeiro, que a reunião iria tratar do papel que o fórum pode desempenhar no tratamento das tensões internacionais em curso. A reforma das instituições de governação global, uma das três prioridades, como a Organização das Nações Unidas e bancos de financiamento, é o foco do encontro.
Antes de prosseguir com esse tema, o ministro anunciou as outras duas prioridades da presidência brasileira do G20: promoção da inclusão social, ao combate à fome e à pobreza e à realização do desenvolvimento sustentável, que serão abordadas mais a fundo em outras reuniões.
Em seguida, o ministro detalhou a agenda da reunião: o papel que o G20 pode desempenhar no tratamento das tensões internacionais em curso e a reforma da governação global.
Segundo o ministro, o G20 é um fórum internacional de crescente relevância. Diante do quadro que vivemos, caracterizado por grandes tensões geopolíticas e geoeconómicas, ele afirmou que o G20 é hoje o foro internacional mais importante, onde países com visões opostas ainda conseguem se sentar à mesa e ter conversas produtivas, sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que têm impedido avanços em outros foros, como o Conselho de Segurança (da Organização das Nações Unidas). Para Vieira, o G20 pode e deve desempenhar um papel fundamental para a redução das tensões internacionais, bem como no avanço da agenda de desenvolvimento sustentável.
O ministro foi muito claro ao dizer que a posição do Brasil sobre a situação na Ucrânia e na Palestina é conhecida e fora apresentada publicamente nos foros apropriados, como o Conselho de Segurança da ONU e a Assembleia Geral da ONU. Ele afirmou sem rodeios que “O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados por nações estrangeiras. O Brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver num mundo fraturado”, disse.
Alguns dos temas abordados pelo ministro, como a reforma da governação global, combate à fome e à miséria e transição energética, já haviam sido anunciados anteriormente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião bilateral que teve, antes do início da reunião de diplomatas, com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. O presidente Lula também destacou a urgência em abordar a questão da dívida externa dos países africanos.
Lula também reiterou junto de Blinken a sua posição, anunciada na semana passada na Cimeira da União Africana, sobre a importância do multilateralismo e o papel dos países do Sul Global na construção de um mundo mais justo.
Deve-se lembrar que na Cimeira da União Africana, Lula havia afirmado que ” as tentativas de restituir um sistema internacional baseado em blocos ideológicos não possuem lastro na realidade. A multipolaridade é um componente inexorável e bem-vindo do século 21. Sem os países em desenvolvimento não será possível abrir um novo ciclo de expansão mundial, que combine crescimento, redução das desigualdades e preservação ambiental, com ampliação das liberdades”.
Como esperado, a presidência brasileira do G20 será marcada por questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, à governança global, ao combate à pobreza e às desigualdades, com forte foco nos países em desenvolvimento, particularmente na África.
A forma como o Brasil pretende abordar essas questões é eminentemente política, ao contrário de outras presidências do G20 que adotaram uma abordagem mais tecnocrática e com poucos resultados.
Resta saber se a clareza com que o Brasil colocou os problemas mundiais sobre a mesa permitirá ao G20 avançar em relação a questões fundamentais como a governação global, o desenvolvimento sustentável e o papel dos países em desenvolvimento, que têm sido discutidos há mais de duas décadas, mas com poucos progressos devido à falta de vontade política por parte dos países desenvolvidos.
Por: José Correia Nunes
Diretor Executivo Portal de Angola