A admissão ocorreu três meses após a grande conquista do povo angolano, o alcance da Independência Nacional, constituindo um passo decisivo no domínio do Direito Internacional.
A proclamação da independência, pelo Presidente António Agostinho Neto, a 11 de Novembro de 1975, traduziu o culminar de uma árdua e longa luta de libertação nacional, iniciada a 4 de Fevereiro de 1961.
Ao proclamar a independência, António Agostinho Neto anunciou a adesão do país, enquanto Estado africano livre e independente, aos princípios da Carta da Unidade Africana, ao que a OUA anuiu acolhendo-o como seu novo Estado-membro.
A declaração oficial de estreia do novo Estado, pronunciada na sede da organização continental, pelo seu primeiro ministro das Relações Exteriores, José Eduardo dos Santos, realçava que Angola chegara à OUA graças à determinação, ao sacrifício, à resistência e à luta do povo contra o colonialismo português.
O comprometimento do país com os ideais africanos passou também a ser traduzido nas cores da nova Bandeira Nacional, nomeadamente no vermelho, significando o sangue derramado pelos angolanos na luta antí-colonial, e de libertação nacional, e no preto, representando o continente africano.
O mesmo compromisso surge expresso na letra do Hino Nacional, em versos como “Levantemos nossas vozes libertadas”, “Para a glória dos povos africanos”, “Marchemos combatentes angolanos”, “Solidários com os povos oprimidos”.
Volvidos 48 anos desde a sua adesão à OUA, Angola mantém a sua lealdade relativamente aos princípios e objectivos estratégicos da União Africana, sucessora da Organização de Unidade Africana, engajando-se, seriamente, no processo de Reformas Institucionais e Financeiras da organização.
Entre os 55 Estados-membros, Angola está no top seis dos contribuintes da UA.
Quanto a esta última, várias têm sido as manifestações de reconhecimento, mormente da Comissão da União Africana (CUA), sobre a “importância estratégica” de Angola para a Paz e a Segurança do continente.
Um dos testemunhos mais emblemáticos está na realização (de dois em dois anos) do Fórum Pan-africano para a Cultura da Paz – Bienal de Luanda, evento organizado em parceria com a UA e a UNESCO.
Nessa conjuntura, o país candidatou-se a uma nova eleição para o Conselho de Paz e Segurança (CPS), escrutínio a decorrer durante o 44º Conselho Executivo, que vai preceder a 37ª Sessão Ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo (Cimeira), agendada para 17 a 18 de Fevereiro, em Addis Abeba (Etiópia).
A acontecer será a quarta presença no CPS, depois dos mandatos de 2007-2010, 2012-2014 e 2018-2020.
Trata-se de um órgão decisório permanente para a prevenção, gestão e resolução de conflitos, composto por 15 membros.
Entretanto, a Conferência dos Chefes de Estado e de Governo é o órgão supremo da UA.
Mas esta conta ainda com o Conselho Executivo, o Parlamento Pan-africano, o Tribunal de Justiça, a Comissão (que abarca o CPS), o Comité de Representantes Permanentes (a que pertence o embaixador de Angola na Etiópia), além de outras estruturas.
O cargo de representante permanente de Angola junto da UA já foi desempenhado pelos embaixadores Luís José de Almeida (1989-1993), Toko Diakenga Serão (1993-1998), Miguel Gaspar Fernandes (1999-2004), Manuel Domingos Augusto (2005-2010), Arcanjo Maria do Nascimento (2011-2018), Francisco José da Cruz (2018-2023) e actualmente por Miguel César Domingos Bembe.
Angolanos nas estruturas da UA
Entre as várias presenças de angolanos na organização pan-africana, o actual ministro das Relações Exteriores, Téte António, exerceu anteriormente as funções de representante da União Africana junto das Nações Unidas e conselheiro diplomático do presidente da Comissão da União Africana.
Foi igualmente observador político da UA junto da Missão das Nações Unidas para a Organização de um Referendo no Sara Ocidental (MINURSO), de 1997 a 1999.
Desde 2016, o académico Sebastião da Silva Isata preside à Comissão do Direito Internacional da UA, depois de exercer as funções de representante especial da União Africana na Guiné-Bissau, no Burundi e na Região dos Grandes Lagos.
Desponta também Josefa Leonel Correia Sacko, actual comissária para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável (desde 2017).
Enquanto isso, Maria Teresa Manuela integra a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, sendo relatora especial para as Prisões, Condições de Detenção e Policiamento em África e membro do Comité Contra a Tortura em África, ao passo que Pascoal António Joaquim é membro do Conselho Consultivo da União Africana sobre Corrupção.
Mais recentemente, a 8 de Novembro de 2023, foi escolhido para presidente do Comité dos Direitos e Bem-Estar da Criança da União Africana (UA) o também académico Wilson de Almeida Adão.
Da lista de entidades angolanas na organização constam igualmente Matias Bertino Matondo, ex-representante especial do presidente da UA para a República Centro-Africana; Luís Muxito, ex-conselheiro militar do presidente da Comissão da UA, António Lamas Benedito Xavier, ex-chefe do Estado-Maior da Força Africana em Estado de Alerta e Paulo de Carvalho, ex-vice-presidente do Conselho da Universidade Pan-africana.
As autoridades angolanas estão apostadas em elevar a influência do país no seio da UA, já que um novo Sistema de Quotas foi aprovado pelo 38º Conselho Executivo Ordinário, e, no âmbito das reformas em curso, aumentou-se de 39 para 74 as vagas reservadas a funcionários angolanos efectivos na Comissão da UA.
Paradoxalmente, o país é um dos seis maiores contribuintes do Orçamento Estatutário da UA, a par da África do Sul, da Argélia, do Egipto, de Marrocos e da Nigéria, mas detém uma taxa exígua de representatividade de cerca de 7% nas estruturas da organização, contrária aos seus estatutos.
Descontente com a situação, o Presidente da República, João Lourenço, sublinhou, no seu Discurso à Nação de 2020, a importância estratégica da inserção de quadros nacionais nas organizações internacionais e regionais, no contexto da política externa e da defesa dos interesses de Angola na arena internacional.
Histórico
A Organização de Unidade Africana (OUA), fundada a 25 de Maio de 1963, tinha como principais objectivos livrar o continente dos vestígios da colonização, promover a unidade e a solidariedade entre os Estados africanos, coordenar e intensificar a cooperação para o desenvolvimento, salvaguardar a soberania e a integridade territorial dos Estados-membros e facilitar a cooperação internacional.
Na Carta da OUA enuncia-se como propósito a promoção da unidade e a solidariedade dos Estados africanos, a cooperação entre estes e a comunidade internacional, em prol da melhoria da vida dos povos de África, da defesa da soberania e da independência, da erradicação do colonialismo, da advocacia dos Direitos Humanos, entre outras questões.
Porém, para fazer face a problemas agravados pelo fenómeno da mundialização, pelas alterações do contexto histórico-político dos Estados-membros e com o propósito de adaptar o continente ao panorama económico mundial, e melhor resolver os problemas sociais, económicos e políticos dos países, foi criada a União Africana (UA), a 11 de Julho de 2000, substituindo a OUA.
Depois de lançado o projecto, em 1999, em Sirte (Líbia), pelo líder líbio Muamar Kadafi, em Julho de 2000, em Lomé, capital do Togo, foi adoptado o Acto Constitutivo da UA, em Julho de 2001, em Lusaka (Zâmbia), e estabelecido o programa de substituição da OUA pela UA.
Em 2002, na Cimeira de Durban (África do Sul), procedeu-se à sessão inaugural da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da instituição. ADR/VIC
Por Adérito Ferreira