O executivo angolano garantiu recentemente que até ao final do ano de 2023, não mais haverá problemas com os pagamentos de salários da função pública e assegurou ter dinheiro suficiente, para pagar tudo que deve; promessa que não convence especialistas em matéria económica.
O anúncio foi feito pelo secretário de estado das Finanças, quando a equipa económica do governo falava à imprensa, sobre as medidas a serem tomadas, para atenuar a crise que assola a economia angolana. O executivo garantiu ter dinheiro para pagar salários e dívidas ao mesmo tempo que era anunciado uma série de medidas que assegurem essa promessa.
O professor universitário e especialista em Finanças Públicas Eduardo Nkossi mostra-se céptico em relação a este anúncio: “Eu dificilmente acredito nisso é mais uma das formas do governo ganhar tempo e espaço, para continuar a se manter no poder mas na realidade não acredito que consiga fazer isso, os ajustes directos que passam ao lado da Assembleia Nacional, há um indivíduo que decide ter o controlo do cofre sozinho que faz e
desfaz do modo que ele pretende.”
Nkossi explica que nenhum governo no mundo afirma ter o dinheiro, para determinado exercício económico, o que acontece são apenas previsões que tanto podem resultar ou não.
“Sendo um património Angola tem bens. O governo apenas gere este património que é comum. Na realidade o governo não tem dinheiro, são os agentes económicos, os cidadãos que vão financiando para que o governo possa gerir. Agora está o governo a dizer que tem dinheiro suficiente para pagar os salários até ao final do ano, o dinheiro não é do governo, os valores são provenientes do financiamento dos agentes económicos que somos todos nós”
Outro professor e coordenador do centro de investigação económica da ULA Heitor Carvalho avança o que, no seu entender, aconteceu até agora com a economia angolana.
“Andamos a gastar à toa até agora e o que se fez é anunciar que vamos deixar de gastar à toa e com isso vamos ter dinheiro para pagar o essencial, agora vamos ver se isso é mesmo assim, porque (no mesmo momento) também decidiu-se gastar não sei quanto dinheiro, para uma chamada cidade aeroportuária que para mim não serve para nada.
Claramente há dois pensamentos presentes: Um que quer continuar a gastar à toa e atirando dinheiro para cima dos problemas e pensa que a economia cresce; e outro pensamento que acredita que é preciso gastar apenas no essencial e os problemas da
economia resolvem-se, resolvendo os estrangulamentos, agora vamos ver qual dos pensamentos vinga”
Quanto ao Fundo Soberano de Angola (FSA) que poderia servir de almofada nesta altura, o especialista considera que o fundo já era.
“O FSA foi destruído, foi transformado numa coisinha sem qualquer importância, a única forma de preservarmos as gerações futuras era reservar uma parte significativa dos rendimentos do petróleo hoje e colocar directamente ao FSA; longe dos apetites de qualquer governo, um FSA gerido de forma profissional e independente sem que o actual ou outro governo qualquer mandasse de acordo a sua vontade”