Nos últimos meses, os Emirados Árabes Unidos têm mostrado uma coerência surpreendente na sua diplomacia econômica, que começa a surtir os efeitos desejados. Depois de terem obtido um aumento das suas quotas de produção de petróleo na OPEP em detrimento de países africanos, nomeadamente Angola e Nigéria, os Emirados Árabes Unidos atacam agora a ação climática, amortecendo as ambições para a COP28, a realizar no final de novembro no Dubai sob a sua presidência.
Diplomatas que pressionam por uma ação climática mais forte abandonaram uma reunião preparatória de duas semanas, em Bonn, na Alemanha, para a Conferência sobre o clima COP28 , decepcionados com as disputas entre países e com o que alguns disseram ser falta de ambição dos Emirados Árabes Unidos, país anfitrião deste ano.
As reuniões anuais de Bonn são um importante ponto intermediário no calendário da diplomacia climática, e as presidências anteriores da COP usaram o encontro para definir a sua agenda. Dois anos atrás, por exemplo, o Reino Unido deixou claro em Bonn que pressionaria por uma linguagem forte para encerrar o apoio aos combustíveis fósseis na COP26, abrindo caminho para um acordo histórico sobre a redução gradual do uso de carvão . O Egito, anfitrião da COP27 no ano passado, fez do financiamento uma prioridade e, finalmente, chegou a um acordo para iniciar um fundo de compensação para tratar dos danos causados pelo clima extremo.
No entanto, o evento em Bonn este ano começou com uma nota positiva, quando o Sultão Al Jaber, que acumula as funções de presidente da COP28 com as de CEO da empresa estatal de petróleo Abu Dhabi National Oil , disse aos participantes que a redução gradual dos combustíveis fósseis era “ inevitável ”.
Mas quase duas semanas de negociações não renderam resultados concretos que preparariam o terreno para um resultado forte na COP28 de novembro em Dubai.
A posição dos Emirados Árabes Unidos sobre os combustíveis fósseis estava no centro da discórdia. O sultão Al Jaber declarou que o foco da COP28 deveria ser nas emissões de combustíveis fósseis e não nos próprios combustíveis fósseis.
Isso mesmo. O leitor leu bem. Segundo ele, o problema não está no petróleo, mas nas emissões de carbono derivadas da combustão do petróleo. Ou seja, o petróleo pode fazer parte da matriz energética do futuro por meio da captura de carbono e outras tecnologias de redução de emissões. E nisso os Emirados Árabes Unidos contam com o apoio das grandes companhias petrolíferas e dos lobistas contrários à transição climática. Eles estão atualmente investindo somas colossais para desenvolver tecnologias de captura de carbono e redução de emissões.
A resposta do secretário-geral da ONU, António Guterres, foi que “a indústria de combustíveis fósseis está no centro da crise climática. O problema não é simplesmente as emissões de combustíveis fósseis. São combustíveis fósseis – ponto final.”
Infelizmente, os ventos começam a soprar no sentido contrário às declarações de Guterres e já há quem anteveja que a COP28 será um fracasso. Alguns observadores esperavam ver os Emirados Árabes Unidos mobilizar empresas de petróleo e gás para se comprometerem com cortes de emissões mais agressivos ou ativar bilhões de dólares em financiamento climático por meio de seu fundo soberano. Até o momento, porém, nenhuma iniciativa formal foi anunciada. Uma tentativa anterior de pressionar empresas de petróleo e gás, no âmbito da chamada Global Decarbonization Alliance, foi criticada depois que os seus planos vazaram por deixar de lado mais de 80% das emissões pelas quais o setor é responsável.
Por José Correia Nunes
Director Executivo Portal de Angola