Os cidadãos europeus vêem a China mais como um parceiro estratégico do que como um rival, segundo uma sondagem do Conselho Europeu de Relações Externas (CERE), um centro de estudos com sede em Bruxelas.
A maioria dos europeus gostaria que os políticos da União Europeia (UE) se mantivessem neutros em caso de um eventual conflito entre os Estados Unidos e a China por causa de Taiwan (antiga Formosa). Os inquiridos vêem, também, a China mais como um parceiro estratégico do que como um rival.
Mais de 60% dos inquiridos em 11 países da UE afirmaram que gostariam que o seu país se mantivesse neutro, segundo a sondagem do CERE sobre a postura europeias face aos EUA, à Rússia e à China, publicado na quarta-feira.
O inquérito revela que a opinião pública europeia sobre a China está mais de acordo com a posição do Presidente francês, Emmanuel Macron, do que com a da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmam os co-autores do relatório, Jana Puglierin e Pawel Zerka, numa nota informativa.
Macron foi, recentemente, alvo de críticas por ter dito que a Europa não tinha interesse em pressionar a China na questão de Taiwan e que não deveria tornar-se um “seguidor” dos EUA (seu aliado).
Vários líderes europeus, incluindo Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz, deslocaram-se, recentemente a Pequim, para menter o diálogo e evitar maior crispação; mas há outros líderes de Estados-membros da UE que acompanham Ursula von der Leyen nas críticas mais duras, defendendo de que cada vez se pode confiar menos na China.
A sondagem revelou que os inquiridos na Alemanha e a Suécia são os que têm uma atitude mais crítica em relação à China.
“Os resultados da sondagem mostram que a perceção dos europeus em relação à China mudou surpreendentemente pouco quando comparada com os resultados da sondagem realizada em 2021”, escrevem os co-autores do relatório.
“Agora, a opinião predominante em quase todos os países inquiridos é que a China é o ‘parceiro necessário’ da Europa e do respectivo país”, acrescentaram.
No entanto, se a China começar a fornecer armas à Rússia, uma média de 41% dos inquiridos estaria disposta a impor sanções a Pequim.
No entanto, na Hungria, Áustria, Itália e Bulgária, os inquiridos disseram que preferiam não impor sanções.
A maioria dos inquiridos também se opõe a que empresas chinesas sejam proprietárias de pontes, portos, jornais ou empresas tecnológicas na Europa, segundo o inquérito.
Autonomia da UE
A opinião dos europeus sobre os EUA como aliado melhorou desde 2021, mas três quartos dos inquiridos concordam que a Europa não pode “depender sempre dos EUA” e precisa das suas próprias capacidades de defesa.
“A principal conclusão do nosso inquérito é que os europeus querem que a UE se torne mais autónoma em termos de política externa e que desenvolva as suas próprias capacidades de defesa”, afirmou Puglierin.
“Estas exigências não são novas para os líderes dos seus Estados-membros, mas foram reforçadas pela guerra na Ucrânia e pelas crescentes tensões entre os EUA e a China”.
Os europeus também afirmaram que uma futura administração de Donald Trump enfraqueceria a aliança de segurança com os EUA.
Rússia como “adversário
A percentagem de inquiridos que vêem a Rússia como um adversário ou rival da União Europeia duplicou desde 2021, segundo o inquérito.
Cerca de 64% dos inquiridos disseram que a Rússia era um “adversário” ou um “rival”, um aumento em relação aos 36% em 2021.
No entanto, na Bulgária, cerca de 47% dos inquiridos disseram que a Rússia era um “parceiro necessário” com o qual a Europa deve cooperar.
As sondagens têm demonstrado, sistematicamente, que os europeus são favoráveis a que a UE apoie a Ucrânia. A última sondagem do Eurobarómetro, divulgada a 6 de junho, revelou que mais de dois terços dos cidadãos da UE aprovam fortemente ou de alguma forma o apoio ao país.
A sondagem também questionou os inquiridos sobre o que se segue nas relações dos seus países com a Rússia.
Em média, 48% dos europeus afirmaram que, após a guerra, o seu país deveria “ter uma relação limitada” com a Rússia, enquanto 18% disseram que o seu país deveria “pôr fim a todos os laços”.
Na Bulgária, a maioria dos inquiridos afirmou que o país deveria ter uma “relação de cooperação total” com a Rússia do pós-guerra.
Puglierin afirmou que “este pode ser um momento decisivo para a UE e coloca a questão de saber se consegue conciliar as diferenças de opinião no seio do bloco e passar da sua dependência dos Estados Unidos para uma posição em que possa tomar as suas próprias posições políticas”.
A sondagem foi realizada online junto de mais de 16 mil adultos com mais de 18 anos na Alemanha, Áustria, Bulgária, Dinamarca, Espanha, França, Hungria, Itália, Países Baixos, Polónia e Suécia.
Por Lauren Chadwick & Isabel Marques da Silva (tradução)