O anúncio da criação da Fundação Jonas Savimbi divide opiniões dentro da UNITA em dois pólos. Apoiantes do atual líder do partido Adalberto Costa Júnior e de Isaías Samakuva acusam-se mutuamente.
A ideia que está em cima da mesa deixa a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) dividida em dois lados: o do presidente Adalberto Costa Júnior e o do ex-líder Isaías Samakuva.
O anúncio da criação da futura Fundação Jonas Savimbi foi feito a 14 deste mês, depois de um encontro entre Isaías Samakuva e o Presidente angolano, João Lourenço.
Uma semana depois, esta pretensão continua a gerar as mais vivas reações. O jurista angolano Serrote Simão não vê qualquer impedimento legal para que a ideia seja materializada.
“Seria bom que o Executivo olhasse com maior preocupação e com maior brevidade possível porque hoje Jonas Savimbi, Holden Roberto e Agostinho Neto já não são figuras político-partidárias. São figuras do Estado. Figuras nacionais”, disse à DW o advogado.
Segundo o ex-presidente da UNITA, Isaías Samakuva, a criação desta fundação “é uma vontade da família e do partido”.
Fundação será oposição a Costa Júnior?
Logo após o anúncio da criação da Fundação Jonas Savimbi, multiplicaram-se nas redes sociais acusações entre os militantes do “Galo Negro” afetos a suposta ala do atual e antigo presidente.
O analista e jornalista angolano Ilídio Manuel manifesta desconfiança sobre a real finalidade da futura fundação. “Ela (a fundação) poderá ser utilizada como uma arma de arremesso contra Adalberto Costa Júnior de forma a reduzir protagonismo que vai ganhando ao nível da UNITA”, argumenta.
O analista diz estar na posse de informações segundo as quais, a família de Jonas Savimbi sente-se ofuscada com a ascensão de Adalberto Costa Júnior. “Costa Júnior não é uma pessoa muito ligada ao passado de Jonas Savimbi ao contrário de Samakuva que é uma pessoa que anda a procurar dar vida ao legado de Jonas Savimbi”, explicou Ilídio Manuel.
Mas em relação à fundação, a posição da UNITA é clara e foi várias vezes manifestada, comenta Marcial Dachala, porta-voz do referido partido, em declarações à DW África.
“Temos mesmo que tudo fazer observando aquilo que é a lei do nosso país, no sentido de muito em breve a Fundação Jonas Malheiro Savimbi seja uma realidade, porque também é uma necessidade para história não do partido UNITA, mas para nossa nação em construção”, disse Dachala.
Estatuto de Savimbi
Para o jornalista Ilídio Manuel, a sua legalização pode suscitar outras interpretações: “Ao aceitar que esta fundação seja criada, implica, necessariamente um reconhecimento implícito de Jonas Savimbi. Isso pode trazer alguns embaraços se não mesmo contraste.”
“Por um lado”, acrescenta, “eles negam dar o estatuto a Jonas Savimbi. Por outro lado, poderão reconhecer a existência de uma fundação em seu nome”.
Em pleno debate, na sociedade angolana questiona-se o que a futura fundação trará de novo. O jurista Serrote Simão explica: “Não se esperam situações novas se não aquelas que outras instituições, outras fundações têm exercido ao nível do Estado angolano. Penso que é normal que isso ocorra.”
Ao ocorrer, será mais uma fundação em homenagem a uma das figuras que lutaram contra a descolonização de Angola, depois da Fundação António Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano.
Por Manuel Luamba