Não abandonando os ritmos tradicionais de Cabo Verde, Lura aproxima-se de novos estilos numa fusão que revela a sua multiculturalidade. Numa passagem por Paris para um concerto no Olympia, Lura falou aos microfones da RFI sobre a valorização da mulher, da auto-estima e da redescoberta da sua identidade.
“[Neste novo trabalho] Vamos ter a Lura na descoberta de ritmos que possam refrescar aquilo que já conhecem do meu trabalhar, com sonoridades mais actuais, mais frescas, mais electrónicas, mas não é uma mudança radical. Sempre focando a multiculturalidade e a visão de vários aspectos da vida, do quotidiano, da mulher da auto-estima”, explicou a artista.
Os temas do álbum “Multi Color” partem, segundo Lura, do seu amadurecimento pessoal e das suas experiências enquanto mulher, uma realidade que despertou especialmente depois de ter sido mãe de uma menina.
“Toda esta valorização e empoderamento feminino acaba por me afectar porque realmente é uma causa importante, sem desprimor para a importância dos homens. Mas cada vez mais sei que tenho de m respeitar a mim própria e respeitar as outras mulheres e, se não formos nós a reconhecer essa importância na nossa vida e todas juntas em sociedade, quem o fará?”, indicou Lura.
Outros temas como a identidade e a dupla nacionalidade portuguesa e cabo-verdiana também têm espaço neste novo trabalho.
“Falo muito desta minha dupla nacionalidade, portuguesa e cabo-verdiana, e isto faz de mim uma pessoa de várias cores, não só apenas negra, sou de todas as cores porque somos pessoas de várias cores”, declarou a artista.
Lura vai voltar a Paris em Outubro para um concerto no Café de la Danse, com o seu novo álbum, que conta com uma parceria com o músico Agir, onde a artista mostra vontade de continuar a participar no movimento da música lusófona que atravessa fronteiras.
“Sempre fiz parte deste movimento de mistura de culturas. Desde o assumir do meu afro, às vestes africanas, à cores, ao lembrar que nós, os cabo-verdianos, viemos de africanos e europeus e nos juntámos em ilhas desabitadas e criámos um novo povo, fico muito feliz que África esteja cada vez mais valorizada e estejamos todos a crescer”, concluiu.
Por Catarina Falcão