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Segunda-feira, Novembro 25, 2024

Pensionista médio perde 330 euros de poder de compra nos últimos dois anos

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Pensão média de 509 euros em 2021 passará para 563 euros no fim deste ano. São mais 10,5% em dois anos. Mesmo assim, este pensionista “médio” perde poder de compra.
Nem a meia pensão extraordinária paga no final do ano passado, nem os dois aumentos de pensões deste ano somados são suficientes – considerando a inflação composta de 2022 e 2023, os pensionistas perdem poder de compra.

Vejamos o caso de um reformado que recebe uma pensão média: em 2021, segundo dados oficiais da Segurança Social, essa pensão média era de 509 euros. Neste preciso momento, ela é de 544 euros; e no final deste ano será de 563 euros. Ou seja, mais 10,5% do que há dois anos. Acontece que a inflação composta destes dois anos está estimada em 13,35%, pelo que continua a haver perda de poder de compra.

Vejamos as contas.

2022, meia pensão extraordinária
Com uma reforma de 509 euros mensais pago 14 vezes, o reformado-tipo usado neste exercício recebeu um total de 7.126 euros em 2021.

Em 2022, este reformado teve um aumento de dez euros, passando a receber 519 euros mensais – ou seja, um aumento de 1,96%. Além disso, recebeu no final do ano meia pensão extraordinária, um pagamento feito uma só vez e que não alterou o valor da pensão mensal. Assim sendo, no total do ano, este pensionista recebeu 7.525,5 euros (14 pagamentos de 519 mais a meia pensão de 259,5 euros). Ou seja, recebeu mais 5,61% do que em 2021.

São, pois, dois aumentos diferentes: o mensal (1,96%) e o anual (5,61%). Acontece que a inflação foi superior, fechando no ano passado em 7,85%. E este ano?

2023, dois aumentos
O reformado que tinha uma pensão média de 509 euros em 2021, e que passou para 519 euros em 2022, recebe este ano dois valores mensais diferentes, no primeiro e no segundo semestre.

Nos primeiros seis meses deste ano, esta pensão beneficia do primeiro aumento anunciado pelo governo ainda no ano passado, que para este caso específico é de 4,83%. Ou seja, até ao final de junho, esta pensão mensal é de 544 euros. Depois de julho, a pensão já beneficia do segundo aumento anunciado entretanto pelo governo, de mais 3,57%. A pensão deste reformado passa assim para 563 euros.

Mais uma vez, os aumentos da pensão mensal e do total recebido durante o ano são diferentes. No final deste ano, o pensionista receberá uma pensão mensal 8,4% mais elevada do que no ano passado. Mas, no total deste ano, este pensionista receberá 7.747 euros, o que é apenas 2,94% mais elevado do que aquilo que recebeu ao longo de todo o ano de 2022. E também este último valor é inferior à inflação deste ano, prevista para 5,1% na última previsão disponível, pela Comissão Europeia.

Pensão média perde 14 euros de poder de compra por mês desde 2021
O facto de haver aumentos diferentes entre aquilo que o pensionista recebe por mês e aquilo que recebe por ano resulta das medidas do governo nestes dois anos: em 2022, houve um pagamento extraordinário de meia pensão que não afetou o valor de base da pensão mensal; em 2023, há dois aumentos separados no tempo, pelo que em metade do ano o pensionista recebe um valor e na outra metade recebe outro. Por outro lado, recorde-se, a fórmula dos aumentos das pensões – que o governo já admitiu alterar, recuando depois – tem como base as inflações passadas, o que significa que anda um ano “atrasada”.

Se somarmos os últimos dois anos, a inflação composta de 2022 (7,85%) e 2023 (estimada em 5,1%) significa que os preços subiram 13,35% em dois anos. Mas a pensão mensal média de 509 euros em 2021 subiu 10,5% nos dois anos; e o valor total recebido este ano é 8,71% superior ao total recebido em 2021.

Para manter o poder de compra destes dois anos, este reformado que recebia a pensão média de 509 euros em 2021 (último ano para o qual há dados públicos da pensão média) precisaria de receber hoje 577 euros mensais. Ou seja, está a perder 14 euros mensais de poder de compra em dois anos. E teria de receber no total deste ano 8.077 euros, ou seja, está a perder 331 euros de poder de compra este ano face a 2021.

As contas resumem-se na seguinte tabela:

PENSÃO MÉDIA DE 509€ EM 2021 2021 2022 2023 Aumento 2023/21
Valor da pensão mensal 509 519 563 10,5%
Valor total recebido no ano 7126 7525,5 7746,6 8,71%
Tendo em conta as taxas de inflação de 2022 e 2023 (estimada), a pensão média de 509 teria de ter tido aumentos diferentes para manter o poder de compra:

PENSÃO MÉDIA DE 509€ EM 2021 2021 2022 2023 Aumento 2023/21
Valor necessário para cobrir inflação (mês) 509 549 577 13,35%
Valor necessário para cobrir inflação (mês) 7126 7685,4 8077,3 13,35%

Da confrontação destas duas tabelas resultas as diferenças já citadas: o reformado que recebia a pensão média de 509 euros em 2021, e que passará a receber no segundo semestre deste ano 563 euros, teria de estar a receber 577 euros (mais 14 euros mensais) para manter o poder de compra. E teria de receber ao longo de todo este ano 8.077,3 euros para manter o poder de compra do total do ano de 2021 (mais 331 euros do que receberá).

Repare-se que estas contas assumem a inflação total. Tendo em conta que os rendimentos mais baixos tendem a gastar maior proporção do seu rendimento em alimentação, e que a inflação dos produtos alimentares deste dois anos é superior ao total da inflação, é provável que os reformados que recebem a pensão média tenham perdido ainda mais poder de compra.

Por Pedro Santos Guerreiro | Vítor Costa

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