O reinado dos grandes designers de moda como John Galliano ou Karl Lagerfeld ficou para trás e, embora os gigantes de luxo continuem contratando criadores excepcionais, a discrição vende.
A campanha publicitária catastrófica da Balenciaga, que usou crianças segurando ursinhos de pelúcia vestidos em estilo sadomasoquista, mostrou os problemas que um diretor artístico muito ousado pode causar.
As fotos, sob responsabilidade do diretor criativo Demna, foram retiradas do ar imediatamente, em meio a um escândalo que ainda não foi totalmente apagado.
E muitas outras marcas estão se afastando de toda a ideia de ter um designer renomado.
Na francesa Louis Vuitton, um ano após a morte do americano Virgil Abloh, seu diretor criativo, é o estúdio que agora se encarrega de desenhar as coleções masculinas.
A Gucci estará na mesma situação até segundo aviso, após a saída no final de novembro do extravagante Alessandro Michele, que fez explodir a popularidade da marca italiana, até que as vendas começaram a cair em relação à Vuitton e Hermès.
“As situações são diferentes”, mas revelam uma tendência: “é a era de outro dos ‘low-profiles'”, analisa Arnaud Cadart, da gestora de ativos Flornoy Ferri.
– A era da discrição –
Essa mudança demonstra que muitas marcas já conquistaram seu próprio espaço, e não precisam de uma estrela.
“A identidade da marca não é mais sobre o designer. Designers são intérpretes da identidade da marca”, acrescentou Julie El Ghouzzi, da consultoria de moda Cultz.
Hermès, Chanel, Dior e Vuitton são “as marcas que funcionaram melhor nestes últimos anos” e, ao mesmo tempo, “são as que tem um diretor criativo discreto”, acrescenta Arnaud Cadart.
Nomes de estilistas como Nadège Vanhee-Cybulski e Véronique Nichanian da Hermès ou Virginie Viard, da Chanel, raramente são ouvidos fora do mundo da moda.
Quando o ícone da moda mundial Karl Lagerfeld morreu em 2019, a Chanel escolheu seu braço direito para continuar discretamente seu trabalho na marca.
– Equilíbrio delicado –
Demna trouxe Balenciaga de volta ao estrelato, expandindo a marca para o mercado de tênis e “streetwear”.
Mas nem todos gostaram de seu penúltimo desfile, em março, uma homenagem aos refugiados ucranianos em que ele apresentou seus “sacos de lixo”, vendidos por US$ 1.800.
A relação de Demna com Kanye West, que abriu um de seus desfiles em outubro, também prejudicou sua imagem – e a da Balenciaga, que algumas semanas depois rompeu todas as relações com o rapper devido a seus comentários antissemitas.
“É difícil pensar que isso não quebra o ímpeto da marca, que estava ganhando muita força”, diz Cadart.
O caso John Galliano, demitido em 2011 da Dior após um vídeo em que proferiu insultos antissemitas enquanto estava sob o efeito de drogas, marcou o início do fim para os designers famosos.
“Quanto mais as casas crescem, mais o luxo se torna um mercado de massa. Agora eles procuram diretores criativos mais discretos”, diz Benjamin Simmenauer, professor do French Fashion Institute.
O risco é “que as pessoas fiquem entediadas. A moda deve entreter e levantar questões”, acrescenta.
Alessandro Michele, da Gucci, é o exemplo desse delicado equilíbrio.
Seus desfiles barrocos e extravagantes chamaram atenção, mas não geraram muitas vendas.
“Os mercados querem que a Gucci venda bolsas pretas e não coisas rosa com babados que as pessoas normais não usariam”, explica Cadart.
Mas essa visão “atemporal” acabaria prejudicando a Gucci, cujo DNA está enraizado “profundamente na transgressão”, diz Benjamin Simmenauer.
“É preciso de um pouco de sedução barroca, um pouco de loucura”, opina o especialista.
AFP