Camponeses dizem ser vítimas de perseguições de comandantes da polícia de Luanda e de figuras ligadas à política envolvidas no litígio de mais de 300 hectares de terras no Lar do Patriota, município do Talatona.
O Tribunal Provincial de Luanda vai decidir na sexta-feira (21.10) quem é o legítimo dono das terras na zona do Lar do Patriota, município do Talatona. Enquanto se espera pela decisão da justiça, nenhuma das partes pode fazer obras no espaço. No entanto, segundo a Associação Anandengue, que representa os camponeses, esta medida só tem sido cumprida pela sua parte.
Raimundo Manuel, porta-voz da associação dos camponeses, diz que desde 2003 são erguidos condomínios e mansões luxuosas onde residem figuras ligadas à política, em zonas onde havia lavras. Manuel denuncia inclusive maus-tratos contra os associados, na sua maioria idosos.
“Temos um documento elaborado no dia 18 de agosto pela administração que diz que, enquanto o processo decorre no tribunal, deve-se suspender as obras. Mas, infelizmente, há dias recebemos um aparato policial, que veio aqui maltratar os camponeses. Bateram nas idosas. A polícia lançou inclusive gás lacrimogéneo contra as mães que estão aqui”, acusa.
O porta-voz da Associação Anandengue pede a intervenção do ministro do Interior, Eugénio Laborinho, e do Presidente da República, João Lourenço. “Os filhos dos camponeses não podem fazer nada neste terreno. Logo que tentam construir, vem logo o comandante da polícia do Talatona com as forças”, afirma.
Enquanto Raimundo Manuel falava em conferência de imprensa, agentes da Polícia de Intervenção Rápida circulavam no perímetro em litígio.
“Somos todos angolanos”
Conceição Sabino, de 68 anos de idade, diz ser dona de um dos lotes de terra do Patriota desde 1978. É uma das muitas que pernoitam no terreno baldio para não ser usurpado. “Estão sempre a maltratar-nos. Somos todos angolanos. Somos todos do MPLA. Queremos que o MPLA nos ajude para não ficarmos assim. Peço ajuda porque estamos cansados com esta situação”, apela.
Santos Adão, presidente da Associação dos Camponeses Anandengue, lembra que a promessa de indemnização com casas sociais para os agricultores nunca foi cumprida pela Cooperativa do Lar do Patriota, a empresa que faz a venda dos lotes de terra naquela zona de Luanda.
O líder dos camponeses alega que o juiz que vai ditar a sentença do processo está a ser pressionado pelos “poderosos” com interesses nas suas terras: “O processo está decorrer bem, mas o juiz está ser ameaçado pelas pessoas que receberam os terrenos da Anandengue”.
A DW dirigiu-se à administração municipal do Talatona para ouvir o administrador. Depois de vários minutos à espera, o responsável informou, por intermédio da sua diretora de comunicação, que não pretende falar sobre o caso à imprensa. A polícia e a Cooperativa do Lar do Patriota também não se pronunciam sobre o assunto.