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Sábado, Novembro 23, 2024

Lula explora fala de Bolsonaro sobre canibalismo e diz que não é ‘maldade’ por não ser invenção

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O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou que o vídeo em que o adversário Jair Bolsonaro (PL) fala a um jornalista do New York Times que comeria carne humana deve se tornar um mote da campanha. Antes de caminhada em Campinas, no interior de São Paulo, na manhã deste sábado (8), o petista fez referência ao episódio três vezes em entrevista a jornalistas e disse não se tratar de “maldade” da campanha.

“Aquilo não é fake news ou maldade nossa, aquilo somos nós informando o povo sobre como é nosso adversário”, disse, quando questionado se o caso seria mais explorado pela campanha. “O que está acontecendo é que não estamos inventando. Aquilo não é campanha do Lula falando, é ele falando.”

O PT passou a usar a declaração de Bolsonaro, feita quando ainda era deputado federal, em inserções na TV nesta semana.

O trecho é retirado de uma entrevista do atual presidente ao jornalista do New York Times Simon Romero em 2016, em que ele diz que só não participou de um ritual antropofágico na comunidade indígena Sururucu, em Vista Alegre (RO), porque ninguém da sua comitiva o acompanhou.

“Eu queria ver o índio sendo cozinhado. Daí o cara: se for, tem que comer. Eu como” é a parte da fala de Bolsonaro usada na campanha petista.

Em outras três vezes, Lula citou rapidamente a declaração do adversário em seu discurso. Referindo-se a empresários e investidores que não se aproximam do Brasil, disse, em tom humorado, que as pessoas podem ter medo de canibalismo.

“Ele tem DNA negativista, por isso que diz que comeu índio”, afirmou.

O vídeo antigo, que está publicado na íntegra no canal de YouTube do atual presidente, circulou nas redes sociais durante a semana em uma nova disputa de discursos pautada por questões religiosas e morais.

Bolsonaristas exploraram o vídeo de um tiktoker satanista apoiador de Lula para associar a figura do petista ao diabo. Depois disso, a militância da esquerda ressuscitou um vídeo de Bolsonaro em uma loja maçônica, mobilizando grupos de apoio ao presidente. Parte dos evangélicos não compactua com a doutrina de maçons.

À imprensa neste sábado Lula também comentou a reunião com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que lhe declarou apoio, dizendo que “foi extraordinária”, e que achou o tucano, de 91 anos, muito “alegre e risonho”. Segundo Lula, ele queria descer para dar entrevista a seu lado, mas o filho recomendou que ficasse em casa.

Lula também disse que FHC gravou um vídeo pedindo votos a ele e que deve ser divulgado pela campanha.

“Vou me encontrar com muita gente que outrora não votava em mim”, afirmou. O petista deve se reunir com tucanos que passaram pela presidência do PSDB e também encontrará economistas, empresários e figuras públicas que agora declararam apoio a ele. O encontro está previsto para segunda-feira (10).

“Muitos que não votaram em mim agora estão querendo votar porque as pessoas veem na nossa candidatura a possibilidade de retomar a democracia no país”, disse o candidato.

A caminhada em Campinas começou às 11h no largo do Pará e seguiu até o largo do Rosário. Ela teve duração de pouco mais de uma hora. Lula caminhou ao lado do vice de sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), e de Fernando Haddad (PT), que disputa o Governo de São Paulo contra Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O ex-presidente acompanhou o trajeto em cima de uma caminhonete sem proteção no teto e nas laterais.

Lula, Haddad e Alckmin chegaram a discursar em alguns momentos ao longo do trajeto. Em uma das falas, o ex-presidente voltou a dizer que nordestinos não podem votar em Bolsonaro. Nesta semana, o presidente citou o analfabetismo na região para tentar explicar a derrota sofrida para o ex-presidente no Nordeste.

“O genocida diz que não gosta de nordestino. Nesse país quem tiver uma gota de sangue nordestino não vota no ‘Bozo’”, disse o petista.

A apoiadores ele explorou novamente a fala sobre canibalismo. “Possivelmente a pessoa que quer votar no ‘Bozo’ é uma pessoa que achou interessante ele dizer que come índio, porque nesse país tem muita gente preconceituosa que é capaz de querer comer índio mesmo.”

Lula afirmou a interlocutores que gostou do formato da caminhada de Guarulhos, na sexta (7), no qual ele discursou em alguns momentos ao longo do trajeto. Isso porque ele consegue dialogar com mais pessoas —e não somente com apoiadores que participam dos atos.

Um cordão de militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) cercou o carro de Lula ao longo do caminho.

O petista acenou e cumprimentou eleitores durante todo o trajeto. Em um certo momento, chegou a exibir a bandeira do Brasil e Haddad, a do estado de São Paulo. A caminhada foi embalada por jingles da campanha. Apoiadores do petista entoaram gritos de “olê, olê, olá, Lula, Lula” e “fora, Bolsonaro”.

Ao final, Lula, Haddad e Alckmin discursaram. “De virada vai ser muito gostoso ganhar o estado de São Paulo”, disse Haddad. O petista enfrentará o segundo turno contra Tarcísio de Freitas, apoiado por Bolsonaro. Na primeira rodada, Tarcísio teve 42,32% dos votos ante 35,7% de Haddad.

Lula começou seu discurso afirmando que a caminhada deste sábado foi uma “lição de democracia”. “É para o povo olhar e ver que somos civilizadas.”

Ele pediu que a militância não aceite provocações dos apoiadores de Bolsonaro e voltou a criticar os decretos armamentistas do governo federal. “Ninguém compra arma para fazer o bem. Se quiser fazer a pessoa compra livros. Ela gasta seu dinheiro com educação e cultura e não com armas.”

Lula voltou a citar propostas como a recriação do Ministério da Cultura, a implantação do Ministério de Povos Originários e disse que, se eleito, não permitirá invasão de terras indígenas. O petista também comentou o último episódio da novela Pantanal, da Globo, e afirmou querer “fazendeiros como Zé Leôncio”, que combinam a produção agropecuária com a preservação ambiental.

O candidato ainda citou o apoio da senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno, e indicou que irá acatar proposta defendida por ela de implementar um ensino médio profissionalizante.

Por Victoria Azevedo e Paula Soprana

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