O problema da pobreza extrema em Angola “vai além da realidade estatística” apresentada pelas autoridades, revela um estudo sobre a execução do programa governamental de combate à pobreza.
O estudo elaborado e apresentado esta terça-feira (04.10), em Luanda, pela Associação de Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), analisou a execução do Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (Pidlcp) nos municípios de Cacuso, província de Malanje, do Bailundo, província do Huambo, e da Ganda, província de Benguela.
A pesquisa, a que agência Lusa teve acesso, conclui que “o problema da pobreza extrema é ainda mais forte” do que se imagina, “uma vez que vai além da realidade estatística frequentemente apresentada pelo INE [Instituto Nacional de Estatística]”.
“Os angolanos, em particular os que vivem em áreas mais recônditas, sentem a pobreza e sentem-na numa proporção asfixiante”, refere-se no estudo.
De acordo com o documento, os inquiridos consideram preocupante a intensidade da pobreza.
Pidlcp sem impacto?
“Mais de metade diz que o Pidlcp não impactou a sua vida e não resolveu a situação mais urgente das comunidades, que são a fome, saúde, energia, água, mobilidade e educação”, adianta-se no estudo.
O inquérito conclui que o Pidlcp “foi ineficaz na promoção da educação e também na melhoria da qualidade dos serviços de saúde”, recomendando o aumento da verba para a merenda escolar e distribuição regular para dirimir o problema da desistência escolar.
Relativamente à saúde, a recomendação vai no sentido de se construir um hospital de médio porte em cada comuna, com acesso a ambulância e uma logística que supra as necessidades dos cidadãos.
No que toca à fome e aos níveis de desnutrição crónica registados, devido à depressão da atividade agrícola, tendo como efeitos o êxodo rural das famílias à procura de outras áreas agricultáveis, os inquiridos pretendem que o Governo invista na agricultura e os ajude a cultivar.
Em declarações à imprensa, à margem da apresentação do estudo, o diretor da Unidade de Projetos e Desenvolvimento da ADRA, organização que realizou o estudo no âmbito da implementação do seu plano estratégico 2018-2022, de monitorização às contas públicas, referiu que a pesquisa teve como objetivo central analisar “até que ponto é que este programa está a contribuir para a erradicação da pobreza nas zonas rurais”.
“O que nós constatamos é o seguinte: o programa ainda tem enormes desafios. As comunidades, na sua maioria, dos 187 inquiridos, dizem que o programa não resolveu os problemas concretos que concorrem na sua maioria para a qualidade de vida”, realçou Abílio Sanjaia.