A desaceleração da inflação permite ao Banco Nacional de Angola dar folga à liquidez na economia. Na prática, ao descer a Taxa Básica, o banco central aumenta o dinheiro em circulação e reduz as taxas de juro dos empréstimos. Medida em contra ciclo com o que se passa no mundo.
Pela primeira vez em seis anos, a Taxa Básica do Banco Nacional de Angola (BNA) está acima da inflação homóloga e o governador do banco central admite baixar esta taxa de juro de referência que influencia todas as outras, naquele que será o quinto desaperto da política monetária desde 2014, contra 11 apertos. O Comité de Política Monetária (CPM) do BNA vai reunir hoje 26 de Setembro, naquela que será a quinta reunião ordinária este ano, depois de na de 29 de Julho ter mantido a Taxa Básica de Juro em 20,00%, apesar de a inflação dar sinais de continuar o seu percurso de desaceleração.
Mas no final de Agosto, o governador do BNA, José Massano, deixou no ar à agência de informação financeira Bloomberg que admitia baixar a taxa de juro de referência num contexto de abrandamento da inflação depois da valorização do kwanza face às principais moedas estrangeiras, pelo que o mercado esperado que esse desaperto seja divulgado na próxima reunião do órgão responsável pelo controlo da quantidade de dinheiro que circula na economia.
A confirmar-se, será a quinta vez que o BNA baixa a Taxa Básica desde 2014: julho de 2014 (passou de 9,25% para 8,75%), julho de 2018 (de 18,00% para 16,50%), janeiro de 2019 (de 16,50% para 15,75%) e maio de 2019 (cortou 0,25 pp). Cortar o custo de endividamento coloca o País como uma excepção a nível mundial, já que os principais bancos centrais estão aumentar as taxas de juro para combater a forte inflação provocada pela subida dos preços da energia devido à guerra na Ucrânia.
O BNA não determina as taxas de juro dos bancos comerciais, mas pode influenciá-las, através, precisamente, da Taxa Básica, também conhecida por “Taxa BNA”, que serve de referência ao mercado interbancário, onde os bancos que têm excesso de liquidez emprestam dinheiro aos bancos que precisam de liquidez. Estas trocas de liquidez fazem-se a uma taxa de juro chamada LUIBOR.
Se a taxa básica serve de referência às taxas LUIBOR, estas servem de referência às taxas de juro de crédito a clientes. Quando as empresas e as famílias vão ao banco pedir dinheiro, ele cobra-lhes uma taxa LUIBOR, acrescida de uma margem, que depende do risco. Cronologicamente, quando o CPM sobe a “Taxa BNA”, esse aumento contagia a LUIBOR, que, por sua vez, faz subir as taxas a que os bancos emprestam dinheiro aos clientes. Espera-se que uma descida desta taxa seja acompanhada pela descida das outras taxas.
Para o economista Wilson Chimoco, uma descida na taxa BNA poderá desempenhar um importante papel na gestão das expectativas sobre a evolução da taxa de inflação. “Primeiro, porque uma redução da taxa de juro reflete uma menor expectativa do BNA do aumento da taxa de inflação, no curto prazo. Segundo, uma menor Taxa de Juro BNA poderá induzir ao aumento da procura por kwanzas, o que é fundamental para equilibrar a oferta de divisas e manter a estabilidade da taxa de câmbio. E terceiro, uma menor Taxa de Juro BNA reduz as expectativas de custos da contratação de crédito na economia”, defende. Mais crédito pode significar mais investimento e consumo, o que permitirá o crescimento económico.