As autoridades espanholas registaram nesta quarta-feira, 10, uma tentativa de “sequestro” do cadáver do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos (JES), que se encontra no Instituto de medicina legal de Barcelona vulgo “sanatório”, aguardando por uma ordem judicial para o seu desfecho, quanto a entidade a entregar.
Os responsáveis do instituto notificaram aos advogados da família do malogrado Presidente informando que um grupo encabeçado por um homem que identificou-se por “Victor Fonseca”, compareceu por volta das 14h, no referido “sanatório” munidos de documentos alegando que já estava tudo “resolvido” e que pretendia levar o corpo de José Eduardo dos Santos, para ser enterrado.
Ao sentirem baralhados, os responsáveis do instituto telefonaram para os representantes legais da família informando sobre o que se estava a acontecer. Deduz-se que o grupo tentou “levar” o corpo de JES, aproveitando o facto de que Espanha observa neste mês de Agosto, as férias judiciais, e assim sendo os tribunais estão parados até o próximo dia 31. Com os tribunais parados, os homens desconhecidos terão tentado a sua sorte quanto ao resgate do cadáver de JES.
Desde o anuncio de óbito no passado dia 8 de Julho, JES não foi ainda a enterrar devido a uma contradição entre os filhos mais velhos do malogrado e a viúva apoiada pelo Presidente João Lourenço. Os filhos mais velhos são de opinião que o corpo de JES só deve ser enterrado em Angola, depois de Lourenço sair do poder, já a viúva Ana Paula dos Santos, pretende remeter o assunto a Presidência da República, para as devidas honras de Estado.
No mês passado o governo angolano despachou para Barcelona, uma delegação chefiada pelo Chefe da casa Militar, Francisco Furtado, a fim de resolver o diferindo existente, tendo inclusive garantido que somente regressaria a Luanda com o corpo. Segundo fontes do Club-K, o general Furtado já se encontra em Angola, aparentemente consciente das férias judiciais de Espanha.
A batalha que a delegação chefiada por Furtado travava com a família de JES, não é alheia a informações de difícil confirmação, que atestando que as autoridades angolanas haviam despachado um grupo de oficiais da Inteligência Militar para uma formação intensiva na Alemanha, afim de aprenderem técnicas de resgate de cadáver.
Num artigo publicado no mês de Junho, antes de JES falecer, o activista e defensor dos direitos humanos, Rafael Marques de Morais considerava no seu “Maka Angola”, que “o sequestro do cadáver é a mais profunda forma de desumanização do outro, do inimigo. O inimigo nem direito ao corpo morto tem, não existe”. Marques fazia referencia aos restos mortais de antigos dirigentes da UNITA, assassinados por forças leais ao regime em 1992, e que cujos corpos andavam em paradeiros incerto nas hostes do Estado angolano que se recusava entregar a família.
Historia de cadáveres sequestrados
A nível da historia não há conhecimento de sequestros de cadáver de um ex-Presidente. Até aqui ouvia se com frequência casos como a da antiga primeira dama da Argentina, Maria Eva Duarte de Perón, conhecida como Evita, que depois de falecer aos 23 de Julho de 1952, o seu cadáver seria roubado e enterrado no Cemitério Monumental de Milão, Itália. Dezasseis anos mais tarde, em 1971, o corpo foi exumado e transladado para a Espanha. Ali foi entregue ao ex-presidente Perón, que vivia exilado em Madrid. Em 1974, Evita Perón foi então enterrada novamente no mausoléu da família Duarte no cemitério da Recoleta, na cidade de Buenos Aires.
Um outro caso de figura notada foi o do actor Charles Chaplin que morreu em 25 de dezembro de 1977, todavia, em março 1978, o seu cadáver foi roubado por dois homens que depois de dez semanas fizeram ligações exigindo resgate em troca do corpo.
Ao tempo em que chefiou a UNITA, o seu fundador Jonas Savimbi, terá estudado a possibilidade de ordenar o sequestro dos restos mortais de um sobrinho, Elias Salupeto Pena que se dizia estar escondido numa câmara frigorifica no Mausoléu Dr António Agostinho Neto, em Luanda.
Ao tempo em que chefiou a UNITA, o seu fundador Jonas Savimbi, terá estudado a possibilidade de ordenar o sequestro dos restos mortais de um sobrinho, Elias Salupeto Pena que se dizia estar escondido numa câmara frigorifica no Mausoléu Dr António Agostinho Neto, em Luanda. O então líder rebelde pretendia arriscar movido por informações de que o regime usaria o corpo de Salupeto Pena para rituais recomendados por um guru da Índia, que fora a Luanda por recomendação do falecido Presidente Omar Bongo.