Num “acto de massas” do MPLA na província do Zaire, o presidente do partido no poder em Angola desde 1975 criticou a oposição, que insiste em descredibilizar as próximas eleições gerais, marcadas para 24 de Agosto.
Numa longa intervenção, o Presidente da República e presidente do MPLA criticou de forma veemente a atitude dos partidos da oposição que insistem em descredibilizar as eleições gerais. Na verdade, desde 1992 – e aí com consequências dilacerantes para o país – que o partido do poder e os partidos da oposição, em particular a UNITA, fazem leituras divergentes das eleições gerais, reclamando, desde então, e quanto foi instituído o multipartidarismo, que as eleições são fraudulentas.
E essa ideia, da falta de transparência do acto eleitoral prevalece passados todos estes anos, e o Presidente da República, consciente disso mesmo, usou o seu discurso no “acto de massas” no Zaire, para afirmar, e propósito da necessidade de o país ter eleições gerais consideradas credíveis: “Sabemos que há quem esteja a fazer precisamente o contrário, alguém que sendo angolano, procuram descredibilizar, procuram manchar as eleições do seu próprio país, eleições em que eles vão participar, em que eles já são parte, porque estão na Assembleia Nacional, na Comissão Nacional Eleitoral, estão nesta sociedade e mesmo assim, em vez de procurarem credibilizar algo que é de todos nós – as eleições não são apenas para um partido – as eleições são para todos os partidos e todo o povo”.
No entanto, há uma opinião generalizada no país e fora dele que as eleições em Angola podem ser livres mas não são transparentes.
Marcolino Moco, ex-primeiro-ministro e dirigente do MPLA, em recente entrevista à DW (Deutsche Wella), afirmou “a vitória do MPLA nas eleições seria qualquer coisa de miraculoso”, ou seja, para Moco “se houver transparência eleitoral” haverá alternância do poder em Angola.
Mas o que se vai assistir em 24 de Agosto é a “uma vitória fabricada” pelo partido do poder, disse a seguir. Seja como for, Marcolino Moco defende um pacto de estabilidade entre os principais actores políticos para o tempo pós-eleitoral.
Adalberto Costa Júnior tem, no período pós-eleitoral -e isto se não houver qualquer outra surpresa até lá – um dos desafios mais difíceis dos mais de dois anos que leva à frente da UNITA, porque assumindo, como o partido assume, que haverá fraude eleitoral, que caminho resta a Costa Júnior?
Conduzir o partido dentro das instituições democráticas, ainda que considere que tanto as eleições como as instituições estão feridas no que tem a ver com a sua transparência – as eleições – e a sua independência – as eleições – e a sua independência – as instituições, como é o caso do Tribunal Constitucional -, ou mobilizar as hostes em protestos de rua com resultados imprevisíveis.
É também nesta incerteza, que o líder do MPLA e Presidente da República joga o tudo por tudo na credibilização das eleições gerais, num jogo limpo, que também credibilize a sua reeleição dada como certa, não tanto pela força do povo e do voto, mas pelo controlo das instituições e do processo eleitoral.
João Lourenço fez questão de lembrar na província do Zaire que o MPLA “é um dos maiores partidos políticos de África, senão do mundo”, preparando os eleitores para uma vitória esmagadora do seu partido. No entanto, o MPLA tem vindo a revelar uma tendência de descida na percentagem de votantes nas três últimas eleições gerais.
Senão vejamos: a primeiras eleições, em 1992, com José Eduardo dos Santos como líder do MPLA e Jonas Savimbi a liderar a UNITA, deram ao partido do poder 53% dos votos, a UNITA ficou com 34% e não aceitou os resultados eleitorais, a país voltou a entrar em guerra civil.
Obtida a paz, em 2002, Angola tem eleições gerais em 2008, José Eduardo dos Santos continuava a liderar o país e o partido e MPLA obtém 81% dos votos, Isaías Samakuva dirigia a UNITA em cacos depois da morte do seu líder histórico, e o Galo Negro obteve 10% dos votos. Tal como em 1992, a UNITA contestou os resultados eleitorais, mas Samakuva optou por acatar o resultado e não abriu uma crise política.
Em 2012, José Eduardo dos Santos, e agora como a Constituição da República de 2010 em vigor e impondo novas regras, é o cabeça de lista do MPLA e candidato à Presidência da República, e o partido ganhava com 71% dos votos, a UNITA, que também continuava a ser liderada por Samakuva fica-se pelos 18% dos votos. Nesse ano entra uma nova força política no jogo eleitoral, é a Coligação Eleitoral CASA-CE, que obtém 6% dos votos.
Chegados a 2017, o MPLA, que tem como cabeça de lista João Lourenço, obteve 61% dos votos, a UNITA ficou com 26% do número total de votos depositados nas urnas, e a Coligação Eleitoral CASA-CE obteve quase 10% e duplicou o número de deputados eleitos relativamente a 2012.
E é também contra esta tendência que o presidente do MPLA vai ter que lutar, a confirmação do seu sucesso passa sempre pelos resultados eleitorais, que João Lourenço quer que sejam o mais credíveis possíveis, também porque por aí passa a sua legitimidade efectiva aos olhos do mundo.