A notícia avançada nesta sexta-feira, em Malabo, pelo Presidente da República, João Lourenço, de que Angola vai contribuir com a quantia de 10 milhões para sustentar um Fundo Humanitário da União Africana (UA) causou surpresa e indignação em algumas correntes de opinião.
De acordo com o Chefe de Estado angolano, que fez este pronunciamento quando dirigia os trabalhos da Cimeira sobre Questões Humanitárias e a Conferência de Doadores, o fundo destina-se a combater à fome e pobreza no continente africano. Soube-se que Angola e África do Sul são os países que mais vão contribuir para sustentar o referido fundo, não havendo informações sobre os contributos dos demais Estados. A África do Sul possui, como se sabe, a economia mais robusta do continente africano.
Pelo conhecimento que se tem da nossa realidade africana em matéria de contribuições tudo aponta que a generalidade dos países africanos estará longe de honrar com os seus compromissos. Prova disso, são as dívidas colossais que muitos Estados têm com os distintos organismos de âmbito continental e regional, sendo a realidade mais próxima a UA. Outra questão não menos preocupante tem a ver com a transparência na gestão de tais fundos conhecendo-se os níveis de corrupção que grassam no continente africano.
Em Angola, o anúncio tem suscitado alguma polémica nas redes sociais, tendo em conta que Angola vive sérios problemas de fome e pobreza, o que, na óptica de alguns críticos, as prioridades deveriam recair sobre os angolanos. Algumas vozes não se coibiram de acusar o Presidente da República pela sua alegada falta de sensibilidade para os problemas da fome no país, um clima de animosidade adensado pelo facto de João Lourenço ter afirmado, num passado recente, que a fome em Angola era relativa. No plano interno têm sido levantados outros questionamentos sobre a proveniência dos 10 milhões de dólares, isto é, se os mesmos foram contemplados no Orçamento Geral do Estado (OGE). Sobre este assunto, o político e comentador político do programa África Magazine da RNA Loló Kiambata, não só questionou a origem desse dinheiro, como também é de opinião que as questões desta natureza que envolvam avultadas somas deveriam ser objecto de discussão ao nível do Parlamento.
Kiambata, que já foi embaixador de Angola na Zâmbia e no Reino Unido, socorreu-se da sua experiência de diplomata, tendo dito que naqueles dois países questões desta natureza eram tratadas em sede parlamentar e não eram do livre arbítrio dos presidentes da República. Em alguns meios crê-se que a atribuição pela UA do prémio de «Campeão da Paz e da Reconciliação Nacional» ao Presidente da República de Angola esteja relacionada com a generosa «oferta» milionária por Angola ao referido Fundo Humanitário.