Jogadoras e treinadores estão revoltados com o abandono do Governo relativamente ao futebol feminino na província do Cuando Cubango. Além da falta de apoios, lamentam riscos associados às fracas condições de segurança.
Inácio Viemba Lievela “Wadda”, treinador do clube de futebol feminino Nacional do bairro popular, em Menongue, Cuando Cubango, lamenta a falta de apoio do Governo em relação àquela entidade desportiva. “É a força e a vontade que nos faz partilhar o nosso salário para ajudar a juventude para não enveredarem pela delinquência”, diz.
Este treinador partilha os seus ganhos para sustentar a equipa, que existe há 17 anos, mas essa ajuda não chega. Neste momento, o estádio está degradado e já não tem condições de segurança.
“Ao fazer um remate a bola pode ir para cima de casas, embater no vidro de uma viatura… Na disputa da bola, alguém pode ir contra a parede ou, pior, cair na estrada e ser atropelado”, adverte.
Obras não avançam
Apesar dos vários lançamentos de pedras que pretendiam simbolizar o início da requalificação dos campos de futebol, enquadrados no Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), até ao momento a reconstrução do espaço não começou.
“Na nossa província, o Governo não valoriza o desporto feminino. Tenho a certeza que temos muitas jogadoras com qualidade para serem convocadas para a nossa seleção de futebol feminino e participar noutros torneios”, considera Joana Jamba da Conceição, jogadora do Nacional do bairro popular.
Paulino Vihinga Manuel é outro treinador de futebol e fundador do Desportivo 07 Menongue, criado há nove anos. Lamenta o estado do futebol feminino e o silêncio do executivo.
“No torneio alusivo à cidade de Menongue que participamos no ano passado, houve uma doação de equipamentos, mas [segundo a] lei desportiva não é permitido usar 11 camisas dadas sem suplentes em jogos oficiais, muito menos para treinos… A norma impõe 30 camisas e calções. E 11 camisas vão servir para quê?”, questiona.
O também professor do complexo escolar 07 do bairro popular garante que o seu esforço e de outros membros da sua equipa para continuar a congregar jovens é igualmente social.
“Às vezes passamos meses sem levar nada para alimentar a família para conseguirmos adquirir material desportivo. Nós não ensinamos apenas a prática do desporto, mas também como se devem posicionar e encarar a sociedade”, comenta o treinador.
Falta de interesse do Governo
João Marcos Honda, coordenador dos Amigos da Bola no Cuando Cubango, uma organização juvenil que incentiva a prática de desporto e do futebol feminino em particular, mostra-se cético quanto a um possível envolvimento do Executivo da província.
“Nós não temos a quem recorrer e isto tem-nos obrigado mesmo a sacrificar os nossos salários para comprarmos os troféus e tudo aquilo que está relacionado com a própria organização”, admite.
Honda lamenta que a falta de interesse e apoio na província se estenda aos órgãos de comunicação social que não divulgam os torneios.
O jovem apela ao Executivo para legalizar os clubes femininos, para conseguirem apoios da Federação Internacional de Futebol (FIFA), porque o material desportivo no Cuando Cubango é muito caro – só uma bola custa 20 mil kwanzas (o equivalente a 42 euros).
A DW tentou contactar, sem sucesso, o Departamento de Juventude e Desporto do gabinete provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desporto.