Comunidade angolana na diáspora deve votar pela primeira vez nas eleições deste ano. O medo de um sufrágio fraudulento paira no ar, porque o processo de preparação das eleições “não tem sido revestido de transparência”.
Sílvia Milonga, uma das primeiras angolanas a registar-se no Consulado Geral de Angola em Lisboa para poder votar, quer finalmente exercer o seu direito de cidadania nas próximas eleições legislativas e presidenciais do seu país. No entanto, tem alguns receios.
“Se analisarmos o que tem sido veiculado, creio que será mais um ano de eleições fraudulentas. Têm sido feitas denúncias por parte dos outros partidos: a Frente Patriótica e o Bloco Democrático”, diz à DW sem querer apontar o dedo ao partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
“Falta de transparência”
Sedrick de Carvalho tem uma opinião semelhante. Ouvido pela DW à margem de uma conversa aberta sobre Angola na última sexta-feira (18.03), proporcionada pelo seu mais recente livro “Prisão Política”, o autor admite o clima de incerteza.
“Tenho muitas dúvidas exactamente porque a falta de transparência e de justeza numa eleição não se mede ou se verifica no próprio dia das eleições ou com a contagem ou anúncio dos votos. Verifica-se antes”, defende.
“Todo o processo que está a decorrer para a preparação das eleições não tem sido revestido de transparência. Já há muitas acusações com o envolvimento, mais uma vez, da nefasta e conhecida empresa espanhola INDRA, que permanentemente é acusada, inclusivamente em Espanha, de estar envolvida em atos de corrupção nos processos eleitorais”, lamenta.
Para Sedrick de Carvalho, o presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola, Manuel Pereira da Silva, “não reúne nenhuma credibilidade para estar diante do cargo”.
O activista e jornalista angolano critica o facto de as eleições continuarem a ser preparadas por órgãos tutelados pelo Governo. “Todos estes elementos mostram que as eleições não serão transparentes, porque o seu processo preparatório não está a ser transparente nem justo”, frisa.
Quem escrutina?
Já o angolano residente em Portugal Simão Cacete receia os estratagemas para eventuais fraudes. “Basta olhar para os contornos preparatórios do acto eleitoral para perceber que dificilmente haverá essa justeza e essa clara representação da vontade do povo”, comenta.
Sobre o registo de potenciais eleitores, levanta a dúvida: “Que oportunidade que é que os cidadãos, e particularmente os partidos políticos, têm para verificar a verdade desses dados?”, questiona, deixando o alerta:
“A transparência do acto eleitoral passa por um escrutínio lá onde se realiza o acto eleitoral. Ou seja, em cada uma das assembleias eleitorais tem de haver escrutínio, tem que haver actas, distribuídas cópias aos representantes dos partidos e só assim é assegurada a transparência do acto”, acredita.
Para este cidadão angolano, tem de haver um escrutínio na assembleia de voto e no município, aos quais se seguirão o escrutínio da província e o processamento dos votos a nível nacional. “Tem que ser o somatório de todos eles”, acrescenta, avisando que “todos esses escrutínios têm que ser verificáveis”, conclui.