Os partidos da oposição em Angola pedem um diálogo com o Presidente João Lourenço para travar os níveis de tensão política que o país já vive em ano eleitoral.
Os grupos parlamentares da UNITA e da CASA-CE, as representações parlamentares do PRS e da FNLA e deputados sem partidos reuniram-se no fim-de-semana para fazer esse pedido, no momento em que, dizem, o país observa uma escalada de tensão.
Este posicionamento surge, principalmente, depois dos acontecimentos da passada segunda-feira, 10, no bairro Benfica, em Luanda, quando foram incendiados uma sede do MPLA e um autocarro do Ministério da Saúde.
Liberty Chiyaka, líder do grupo parlamentar da UNITA, em nome das várias representações parlamentares que formalizaram o pedido, afirma que quanto mais cedo acontecer este encontro melhor para a estabilidade que o país precisa.
“Estamos aqui no interesse nacional, para cooperarmos e dialogarmos com o partido que governa, queremos sentar com o Presidente da República, queremos dialogar com a liderança do MPLA, é o país que está em causa e não os nossos orgulhos pessoais ou de grupos, nós só queremos uma coisa: realizar Angola”, reitera Chiyaka.
Alexandre Sebastião André, chefe da bancada parlamentar da CASA-CE, acentua que “onde não existe diálogo naturalmente haverá conflito porque se nós exteriorizamos poderemos corrigir as coisas e aqueles que estão no poder, se tiverem ouvidos, naturalmente vão corrigir” e alerta que “sem este diálogo é quase impossível haver paz, sossego e estabilidade”.
Por seu lado, o deputado na FNLA Lucas Ngonda assegura que todos estão condenados a conviver juntos porque o país é apenas um e há que dialogar para “construirmos um país próspero, já que é o nosso berço e também a nossa sepultura”.
À espera de João Lourenço
Ante este pedido, ainda sem qualquer resposta do Presidente da República, o analista político Manuel Kangundo diz que “conhecendo bem o Presidente que temos, não acredito que João Lourenço venha a ceder a este apelo, mas também eu acredito ser a única maneira para poder travar o nível de violência que já começou”.
Ele reitera que “é importante que João Lourenço assuma o seu papel de chefe de Estado e coloque de parte a de chefe do partido que governa, se isto não ocorrer, a julgar pela forma como se desenha o cenário, poderemos ter cenários piores”.
Kangundo ainda alerta que pela “forma como a comunicação social se posiciona com a TPA à cabeça há um perigo iminente para o país”.
Distúrbios e acusações
No dia 10, no arranque de uma greve de taxistas em Luanda, cidadãos atearam fogo na sede distrital do MPLA em Benfica e num autocarro do Ministério da Saúde, alegadamente em protesto contra a falta de meio de transportes.
O Presidente, na abertura da reunião do Conselho de Ministros, na quarta-feira, 12, disse que aqueles distúrbios respondiam a um macabro plano de ingovernabilidade com marcas conhecidas.
“O que ocorreu na segunda-feira foi um verdadeiro acto de terror cujas impressões digitais deixadas na cena do crime são bem visíveis e facilmente reconhecíveis, e apontam para a materialização de um macabro plano de ingovernabilidade através do fomento da vandalização de bens públicos e privados, incitação à desobediência e à rebelião, na tentativa da subversão do poder democraticamente instituído”, afirmou João Lourenço, depois de, no dia dos distúrbios, o secretário provincial do MPLA em Luanda, Bento Bento, ter pedido “esclarecimentos” à UNITA.
Em resposta, o secretário provincial e deputado da UNITA, Nelito Ekuikui, afirmou que o Presidente da República “devia focar-se na sua governação ao invés de procurar bodes expiatórios”.
Ekukui criticou ainda a inércia da polícia e disse que tudo pode ter sido uma “cabala política” do regime para incriminar o seu partido.