Arrancou na terça-Feira, 22, o programa Reserva Estratégica Alimentar (REA) do Governo angolano que pretende colocar numa primeira fase no mercado 354 mil toneladas de alimentos, na tentativa de fazer baixar na ordem de cinco por cento os preços dos principais produtos alimentares da cesta básica.
Um total de 11 produtos integram o programa: arroz, açúcar, coxa de frango, farinha de milho e de bombô, massango, massambala, feijão, óleo alimentar, sal e peixe seco.
O programa, na óptica de alguns especialistas ouvidos pela VOA, pela forma como está desenhado é mais um que não vai resultar, mas há quem pense diferente.
O economista Carlos Padre mostra-se céptico quanto à eficácia do programa, afirmando que questões comerciais devem ser sempre da responsabilidade de privados.
“É um modelo para mim duvidoso, muitas iniciativas destas na mão do estado falharam porque depois não se importa o necessário”, afirma.
“Veja que hoje somos mais de 30 milhões de habitantes, depois vão convidar empresas que não são do ramo, sem experiência e que não estão implantadas no mercado, sem uma rede de distribuição acertada a nível do país inteiro, (por isso) penso que é muito difícil dar certo”, afirma aquele especialista.
O presidente da Associação Industrial Angola (AIA) tem um entendimento contrário, afirmando que o programa só peca por chegar tarde.
“Nas províncias fronteiriças, por exemplo, há grandes dificuldades porque grande parte dos empresários não consegue lá chegar e quem é que pode chegar? É o programa, com os meios do Estado, caminhões da Casa de Segurança ou outros”, defende José Severino
O empresário acrescenta que o privado, para colocar os produtos nestas regiões, vai pelos preços de custo, e como é que ficam as populações? Isto é reserva do Estado e não venham com conversas de privado”, concluiu.
Por seu lado, o economista Damião Cabulo questiona a forma como o Executivo pretende baixar os preços.
“A Reserva Estratégica Alimentar é com produção nacional e nunca com produtos importados, pois a subida dos preços em Angola tem a ver com o dólar, 100 dólares hoje custam 60 mil kwanzas, se a nota de 100 dólares subir para 70 mil kwanzas é obvio que os preços dos produtos sobem quando o dólar sobe”, afirma.
Bernardo Castro, coordenador da Rede Terra, questiona também “a transparência no processo das empresas que vão operacionalizar os 200 milhões de dólares”, acrescentando que “cheira aqui a medida com olhos nas eleições”.
Castro conclui que a medida “demonstra algum défice de governação no quesito risco, porque o mercado tem regras próprias”.
No lançamento do programa, ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes, afirmou que, como resultado da actuação da REA, os agentes e operadores de distribuição alimentar no mercado nacional vão adquirir e disponibilizar produtos da cesta básica a preços de referência internacional melhorando a qualidade das famílias angolanas.