O número de jornalistas presos em todo o mundo estabeleceu um novo recorde em 2021, com governos repressivos da Ásia à Europa, passando por África, a recorrerem a novas leis de controlo de tecnologias e segurança para combater a imprensa.
“Foi um ano especialmente sombrio para os defensores da liberdade de imprensa”, diz um relatório do Comité de Protecção de Jornalistas (CPJ) publicado nesta quinta-feira, 9.
O número de profissionais da comunicação social detidos aumentou para 293, acima do total revisto de 280 em 2020.
Nesse período, pelo menos 24 jornalistas foram mortos devido ao seu trabalho e 18 morreram em circunstâncias que nas quais não se sabe se eram ou não alvos específicos.
A China continua a ser o maior carcereiro de jornalistas do mundo pelo terceiro ano consecutivo, com 50 atrás das grades, enquanto Myanmar disparou para a segunda posição após a repressão da imprensa a seguir ao golpe militar de Fevereiro.
De seguida, surgem Egipto, Vietname e Bielorrússia.
“As razões para a escalada implacável do número de jornalistas detidos – no sexto ano consecutivo em que o censo do CPJ registou pelo menos 250 presos – diferem entre países”, diz a nota da directora editorial Arlene Getz.
“Mas todos reflectem uma tendência gritante: uma crescente intolerância aos independentes e autocratas a ignorar, cada vez mais, as normas internacionais para se manterem no poder”, continua a nota, acrescentando que “num mundo preocupado com a Covid-19 e tentando priorizar questões como mudanças climáticas, governos repressivos estão claramente conscientes de que a indignação pública com as violações dos direitos humanos é contida e os governos democráticos têm menos apetite por retaliação política ou económica”.
De acordo com a CPJ, é verdade que alguns países de forma inesperada resistiram à tendência de colocar mais jornalistas na prisão.
“A Turquia, que já foi o pior carcereiro de jornalistas do mundo, agora está em sexto lugar no Censo do CPJ após a libertação de 20 presos no ano passado”, escreve a organização de defesa dos jornalistas.
No entanto, “é ingénuo ver a redução do número de prisioneiros como um sinal de uma mudança de atitude em direcção à imprensa, observa o a oganização com sede em Nova Iorque, lembrando que após uma tentativa fracassada de golpe em 2016, o Governo erradicou efectivamente a grande mídia do país e levou muitos jornalistas a abandonarem a profissão.
Na Arábia Saudita, “o efeito intimidatório do horrível assassinato de Jamal Khashoggi em 2018”, juntamente com várias novas detenções em 2019, “silenciaram muitos jornalistas de forma mais eficaz do que qualquer nova onda de prisões”.
Brasil e países africanos
O CPJ nota que o encarceramento implacável de jornalistas na China não é novo, “no entanto esta é a primeira vez que jornalistas foram detidos em Hong Kong”, como resultado “da implementação da draconiana lei de Segurança Nacional de 2020 imposta em resposta aos históricos protestos pró-democracia a cidade.
O Brasil é o único país lusófono citado no relatório como tendo um jornalista retido.
Entre os 37 países referidos, Egipto é o africano com mais profissionais detidos, 25, o que lhe rende o terceiro lugar no pódio global, mais abaixo surgem a Etiópia (com 9), o Rwanda (7), Camarões (6), Marrocos (3), Somália (2), Benin e Argélia (dois), Nigéria, República Democrática do Congo e República Centro-Africama (um cada).