A UNITA denuncia mortes e assassinatos na fronteira angolana com a Namíbia quando cidadãos tentam emigrar para o país vizinho. Oposição no Cuando Cubango pede intervenção urgente para ajudar famílias em situação de fome.
Sem condições mínimas de sobrevivência, cidadãos angolanos arriscam a travessia até à Namíbia. Segundo os dirigentes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), começaram agora a surgir os primeiros casos conhecidos de mortes de migrantes por afogamento e até mesmo por homicídio.
“Do lado da Namíbia, as fronteiras estão abertas, mas, infelizmente, no nosso país, o Governo não autorizou”, diz o secretário municipal da UNITA no Cuangar, Adriano Kayongo.
“Na procura da sobrevivência, as pessoas têm arriscado em violar as fronteiras. Já há mais de quatro mortes, a situação é bastante caótica nas comunidades e temos aldeias despovoadas por conta da fome e por causa da falta de condições básicas”, acrescenta.
Em declarações à DW, o dirigente da UNITA culpa o Governo angolano que, na sua opinião, não apresenta políticas públicas para atender às necessidades básicas da população.
Migrações aumentam
Segundo o Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) no Cuando Cubango, no primeiro trimestre de 2021, mais de 400 cidadãos angolanos emigraram para a Namíbia.
No mesmo período, as autoridades da Namíbia deportaram mais de 200 angolanos a partir dos postos do Catuituí, Calai e Cuangar.
De Janeiro a Novembro, mais de 30 cidadãos, entre crianças e adultos, perderam a vida por conta da fome, denuncia Constantino Tchicondico, secretário municipal da UNITA no Calai.
“Em quatro dias da semana passada, registámos três mortes. Há algumas pessoas em coma por causa da fome. As pessoas até hoje sustentam-se das frutas. Infelizmente não temos ONGs [para nos ajudar]”, lamenta.
Uma fonte do Serviço de Migração e Estrangeiros confirmou à DW África que o fluxo migratório em direcção à República da Namíbia está mais intenso e uma das preferências dos migrantes é a saída de Angola por via fluvial, o que tem provocado casos de afogamento.
A mesma fonte identifica como causas para a emigração a fome, a necessidade de assistência médica e a actividade comercial.
Uma fonte da administração do município do Cuangar, que não quis ser identificada, indicou, por sua vez, que a informação sobre a emigração ilegal não passa de especulação. Segundo a mesma fonte, os cidadãos angolanos entram de forma legal na Namíbia.
A DW contactou as administrações do Calai e Cuangar e o MPLA na província para saber mais sobre o assunto, mas não obteve resposta.