Centenas de cidadãos ruandeses refugiados há mais de duas décadas em Moçambique relatam um misto de angústia e pânico, devido ao que classificam de assassinatos selectivos contra membros da sua comunidade.
A lista dos cidadãos alegadamente” marcados para morrer”, começou a ser preenchida em 2012, com o assassinato de Theogene Turatsinze.
Em 2019, entrou para as páginas necrológicas Louis Baziga, então presidente da Associação dos Refugiados Ruandeses em Moçambique e, em Maio, o jornalista Ntamuhanga Cassien foi sequestrado por oito homens e levado à esquadra da Ilha de Manhica, tendo depois desaparecido.
A 13 de Setembro, o comerciante Revocat Caremangingo seguiu o mesmo caminho, assassinado em Maputo com “nove tiros de arma do tipo pistola”.
Para além de serem refugiados, Turatsinze, Baziga e Caremangingo tinham de comum, o facto de terem pertencido ao regime anterior a Paul Kagame e todos foram silenciados por força de armas de fogo.
Cleophas Habiyaremye, presidente da Associação, não tem dúvidas de onde veio a ordem.
“Nós, como comunidade ruandesa, sabemos bem, que este é um crime político. O nosso irmão Revocat, sabemos que desde 2016, que o Governo de Kigali procurou a maneira para lhe tirar a vida, e, infelizmente, no dia 13 de Setembro, conseguiu”, diz.
Calton Cadeado, docente de relações internacionais e diplomacia na Universidade Joaquim Chissano diz que “é preciso não tirar conclusões precipitadas”.
As mortes selectivas de refugiados ruandeses já aconteceram também na vizinha África do Sul.
Como consequência, Pretória e Kigali entraram em rota de colisão, com expulsões recíprocas de diplomatas, por causa dos episódios em causa.
Paulo Uache, também docente na Joaquim Chissano, considera que há algo estranho a acontecer e diz ser” preciso investigar, para daí tirar ilações, incluindo na responsabilidade de proteger”.
Protecção é o que as vítimas mais pedem.
De todos os casos já registados, da polícia, a resposta é quase a mesma: “Estamos a trabalhar para esclarecer o caso”.
Enquanto esperam pela melhor proteção, os vivos querem justiça pelas vítimas, “se não for dos homens, que seja divina”, afirma Cleophas Habiyaremye.