Há largos meses que os combustíveis, especialmente gasolina, rareiam nos postos de abastecimento do leste de Angola, o que faz com que o litro chegue a ser vendido a 1.400 Kz nalguns pontos das províncias da Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico. O tráfico para a RDC é uma das razões, a outra são os negócios feitos a partir dos postos de abastecimento. Falta fiscalização, admite a Sonangol.
Uma fonte da Sonangol Distribuidora garantiu ao Novo Jornal que não existe falha na distribuição de combustíveis na região leste do País e assegura que o problema é de fiscalização porque os combustíveis estão a ser desviados, especialmente, como o demonstram as constantes apreensões na fronteira, para a República Democrática do Congo (RDC).
Nas províncias do leste angolano, como são os casos da Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico, têm-se observado grandes falhas de combustível nos postos de abastecimento há vários meses, embora a Sonangol enfatize que não se trata de falta de combustíveis, que, assegura, continuam a chegar a estes locais.
Nas Lundas, segundo populares que narraram os factos ao Novo Jornal, sempre que um posto de combustível estiver a funcionar há uma grande enchente de automobilistas e motociclistas madrugando em longas filas para conseguir comprar o combustível, sobretudo a gasolina, que não é fácil de conseguir.
Alguns residentes das províncias vizinhas da Lunda Norte e Sul afirmaram que um litro de gasolina, que custa 160 kwanzas (preço oficial), esta a ser comercializado a 1.400 kz.
“Quando um camião-cisterna de gasolina abastece uma bomba, o combustível só dura uma hora. Quem comprou, comprou, quem não conseguiu não vai conseguir mais, tem que ir abastecer nas ruas. A venda ambulante é feita mesmo junto às bombas e ninguém faz nada”, explicam.
Conforme relatam alguns habitantes, há um esquema muito bem montando entre os comerciantes e o pessoal das bombas de combustíveis, que só dificulta a vida dos cidadãos.
Para eles, essa é já uma prática antiga nas Lundas e lamentam o facto de até aqui as autoridades competentes nada fazerem para inverterem a situação nestas províncias.
Dinis Lufeca, que vive no Dundo e Carlos Armando, em Saurimo, contaram ao Novo Jornal que Um vasilhame (bidon) de 20 litros de gasolina, sendo normalmente vendido 3.200 kz, esta agora a ser comercializado a 10.000 kz.
Segundo os dois jovens, vários automobilistas têm igualmente encontrado problemas na qualidade do combustível, ou seja, muitas vezes a gasolina comprada no mercado informal é adulterada.
“Isso é recorreste aqui, mas as autoridades nada fazem para acabar com isso. A venda de combustível é um grande negócio nesta região nos últimos meses”, contaram.
Na província do Moxico, a falta de combustível nas principais bombas causou, a semana passada, uma onda de manifestação de moto-taxistas. Os mesmos alegam que para conseguirem abastecer as suas motorizadas são obrigados a pernoitarem junto às bombas.
Os moto-taxistas alertam que adquirem um litro de gasolina, no mercado informal, a 1.300 kwanzas, enquanto o gasóleo, entre 700 a 800 Kz, muito longe do preço real das bombas de combustível que é 160 kz, a gasolina, e 130 kz o gasóleo.
No mês de Agosto, a cidade do Luena ficou parcialmente sem energia eléctrica, por vários dias, por falta de combustível no grupo gerador que fornece energia à cidade.
Na semana passada, o governador provincial do Moxico, Gonçalves Muandumba, emitiu uma ordem à Polícia Nacional (PN), após reunir-se com os responsáveis da Sonangol e Prodel, para analisar a escassez dos combustíveis na província, para reforçar a fiscalização da venda de combustível para combater a escassez que se regista há meses.
Conforme o governador, alguns operadores inventam avarias e vendem combustíveis à noite a preços altos em bidões e, com isso, criam insatisfação e descontentamento na população.
O Novo Jornal soube junto de um funcionário do Governo Provincial do Moxico que a situação da falta de energia na cidade do Luena ainda não melhorou, por essa razão, e os serviços públicos trabalham parcialmente devido à escassez de combustível.
Sobre o assunto, o Novo Jornal tentou sem sucesso ouvir explicações oficiais da direcção da Sonangol. No entanto, uma fonte ligada à Sonangol Distribuidora garante que não existe falha na distribuição de combustíveis para a região leste do País, mas alegou que o problema é de fiscalização.
Polícia diz que tem feito seu trabalho e garante apertar o cerco aos contrabandistas
Um oficial comissário da Polícia Nacional (PN), que não quis ser identificado, contactado para abordar o assunto pelo Novo Jornal, disse que diariamente a PN tem detido vários cidadãos, entre nacionais e estrangeiros, implicados na prática da saída ilegal de combustível do território nacional.
“Os produtos são apreendidos e os cidadãos detidos. Mas o que apelamos é que as pessoas denunciem estas práticas e ajudem a PN a deter os infractores”, disse.
Segundo este comissário da PN, existem várias redes bem montadas de cidadãos nacionais e estrangeiros que querem a todo o custo levar para os países vizinho, sobretudo a RDC, de forma clandestina, gasolina e gasóleo, para comercializarem com avultados lucros.
O comissário disse ainda que a PN está vigilante a todas estas manobras e vai continuar apertar o cerco aos contrabandistas, mas trata-se de fronteiras muito extensas e de difícil controlo devido à sua porosidade.
Todas as semanas, prossegue o comissário que não quer ser identificado, a Polícia Nacional frustra tentativas de contrabando de combustível nas fronteiras do País.
“A Polícia de Guarda Fronteira faz um bom trabalho neste sentido”, garantiu o oficial comissário.
Sobre a fiscalização, salientou que o problema não pode ver visto unicamente da PN, mas sim de outras instituições do Estado e apelou ao espírito de cooperação dos cidadãos para fazerem denúncias das situações que presenciem.