O economista faz um balanço das políticas e reformas do Governo com o apoio do FMI e apresenta soluções para a saída da crise. Entre críticas, deixa recados sobre o combate à inflação, cuja solução passa pelo aumento da oferta de bens alimentares e não pela via administrativa, como tem feito o BNA.
Angola está num ciclo de recessão de onde parece ser cada vez mais difícil de sair. No seu entender, o que e” que o futuro próximo nos traz?
Estamos a caminhar para a sexta recessão. A situação que vivemos hoje é bastante crítica, porque continuamos a produzir cada vez menos e continuamos a nascer cada vez mais. Ou seja, o bolo que temos é cada vez menor para dividir por um grupo cada vez maior de cidadãos.
E isso leva-nos a situações sociais bastante difíceis. Basta olhar para a taxa de desemprego, sobretudo nos mais jovens, e leva-nos a questões como a delinquência, a prostituição, o uso excessivo de drogas. Do ponto de vista económico, olhando sobretudo para a satisfação de necessidades das populações, estamos numa situação bastante crítica que exige medidas sérias e temos que arregaçar as mangas.
O que é que está a dificultar a saída desta crise?
Primeiro devemos conhecer muito bem os princípios das políticas económicas que adoptamos. Estamos a falar no âmbito da consolidação fiscal, que se baseava num princípio em que devíamos ter saldos orçamentais positivos para ver se conseguimos reduzir a nossa divida pública ou governamental.
Então, no âmbito da consolidação fiscal o Governo concebeu um conjunto de programas para diminuir o peso do Estado, temos a própria reforma do Estado que reduziu o número de órgãos ministeriais e outras acções que o Governo implementou no âmbito da consolidação orçamental do lado da despesa.
Mas, em contrapartida, assistimos ao mesmo Governo desmobilizar os fundos do Fundo Soberano para um programa que e” o PIIM. Ou seja, por um lado que- remos reduzir as despesas, mas por outro pegamos em recursos que estavam guardados, para projectos da dimensão do PIIM, e estamos a falar, por exemplo, de projectos de terraplanagem, que quando voltar a cair uma chuva tem que voltar a fazer terraplanagem.
Em vez de termos projectos de terraplanagem no PIIM fazia mais sentido comprar equipamentos para as administrações municipais, gastar em máquinas. Mas a obra pública dá emprego… Podemos fazer uma análise puramente económica sem a questão social e a questão política.
Porque a intervenção na actividade económica, a intervenção na produção e distribuição de bens e serviços visam satisfazer uma necessidade, que e” a necessidade de pessoas, logo, naturalmente é algo social. Mas essa sociedade desenvolve-se dentro de uma conjuntura, que é a questão política.
É bem verdade que quem é governo tem todo o interesse em manter-se e do ponto de vista económico há medidas e políticas. É normal que em épocas destas haja tendência de se realizar despesas com um pendor muito político.