Guilherme Posser da Costa é o candidato do MLSTP-PSD às eleições presidenciais de São Tomé e Príncipe, marcadas para 18 de Julho e nas quais concorrem 19 candidatos. Em entrevista à RFI, o candidato diz que a sua maior preocupação “é o resgate da família são-tomense”.
RFI: O senhor é o candidato apoiado oficialmente pelo MLSTP-PSD, partido que há cerca de 20 anos não consegue eleger um Presidente da República. Não receia que a história se volte a repetir?
Guilherme Posser da Costa: Eu não tenho qualquer tipo de receios desta natureza, nem me deixo influenciar psicologicamente por esses factos. As candidaturas presidenciais são candidaturas unipessoais- isso depende muito da pessoa que se candidata- independentemente dos apoios.
Quero aproveitar para agradecer ao MLSTP-PSD, pelo apoio que dá à minha candidatura, mas não quero fazer qualquer paralelismo, relativamente aos outros insucessos que tenham havido no passado.
Há outros candidatos do MLSTP-PSD que concorrem nesta eleição. Esta situação não pode dispersar os votos?
Inevitavelmente que sim. Não posso fugir de maneira alguma a esta questão e responder com ambiguidades. É certo que vai haver, porque são figuras de proa do partido -independentemente de eventuais disciplinas, ou não disciplinas partidárias- há relações familiares que levarão algum eleitorado do MLSTP-PSD a votar nos outros candidatos.
Concorda com o facto do partido ter vindo dizer que vai sancionar os candidatos, membros MLSTP-PSD, que se tenham apresentado nesta eleição?
Eu não me quero pronunciar sobre isso, porque se trata de uma questão interna do partido. Como deve imaginar, o partido tem estatutos e rege-se por esses estatutos. Neste momento, eu sou o candidato e gostaria de não me pronunciar sobre esse facto.
O slogan da sua campanha é “Harmonia e Progresso”. Que política vai apresentar ao povo de São Tomé e Príncipe e à diáspora?
Eu não faço qualquer diferenciação entre o povo são-tomense e a diáspora. Eu considero que todo e qualquer cidadão, seja ele um cidadão são-tomense, que esteja na Mongólia ou onde quer que esteja, deve merecer por parte do Presidente da República toda a sua atenção, de forma a fazer com que a sua vida possa ser a melhor possível.
Tenho preocupações prioritárias no meu mandato, uma delas será seguramente a juventude. Somos um país extremamente jovem, esta é uma realidade a que nenhum político- que quer exercer o cargo de Presidente da República- deve fechar os olhos. Eu acredito que é sobre esta realidade que nós devemos partir para o futuro. Devemos, por isso, dar uma atenção muito especial à juventude.
Quando diz que a sua prioridade será a juventude refere-se a políticas de criação de emprego e de formação?
Não só, mas também. O primeiro emprego jovem é uma das minhas preocupações. Os jovens sonham hoje em ter uma família, como eu já tive e sonhei quando era jovem. Os jovens sonham ter uma formação, sonham ter um emprego, como eu tive.
O jovem hoje, como fui eu no meu tempo, é um jovem sonhador. Mas não é sonhador de aspirações inatingíveis. São aspirações que eu, enquanto Presidente da República terei que me preocupar. Por esse facto, irei criar na presidência da república um conselho da juventude.
O senhor afirma que a reforma Justiça será outra das suas prioridades. Qual é a sua proposta?
A reforma da Justiça tem sido um apanágio nos vários governos. Várias propostas e estudos já foram feitos- todos nós já temos o diagnóstico- e agora temos de passar à prática. Quero falar da Justiça numa perspectiva transversal- não falo da Justiça como todos os outros órgãos que contribuem para uma sociedade justa- falo dos outros órgão que prevêem que haja segurança, no que diz respeito à criminalidade.
Desde uma boa polícia judiciária, que prevê os crimes antes de acontecerem, até à polícia nacional, que vela pela ordem pública e integridade física dos cidadãos e dos bens- até chegarmos à Justiça dos tribunais. Porque quando chegamos à Justiça dos tribunais e há um erro- que eu considero um erro- focalizamos muitas vezes na necessidade de se fazer Justiça na Justiça que é feita pelos tribunais.
E esta [Justiça] é quase o fim da cadeia. A Justiça tem todo um início que, muitas vezes, passa pelas instituições não formais da Justiça, como é o caso da própria família.
O abuso sexual, a violência doméstica, o consumo de droga e a corrupção são flagelos que atingem o país. O que pode fazer o chefe de Estado para resolver estes problemas?
Existe uma certa tendência para se dizer que o abuso sexual faz parte da cultura do povo são-tomense, isto é uma aberração completa, não é cultura nenhuma.
O abuso sexual tem de ser combatido em várias vertentes. O meu projecto é a família, uma das minhas maiores preocupações é o resgate da família são-tomense. Porque a família são tomense que eu conheci não teria esse tipo de desvios, que estão a acontecer agora. Por isso é que eu digo que, todos nós, temos de estar envolvidos em qualquer actividade que considerarmos benéfica para todo e qualquer cidadão são-tomense.
São Tomé e Príncipe é considerado como um dos países mais pobres do mundo e também um dos mais endividados, sendo que 50% do Produto Interno Bruto é assegurado pela comunidade internacional. A situação foi agudizada pela pandemia de Covid-19. Que papel deve exercer o chefe de Estado para reduzir esta dependência?
Essa dependência só é diminuída se nós conseguirmos que o nosso PIB nacional, a nossa riqueza nacional, cresça. E eu, enquanto Presidente da República, já o fiz quando fui primeiro-ministro. Apostei em três sectores: a agricultura, o turismo e a pesca, que são sectores para os quais não precisamos de grande investimento.
Nós não somos um país rico em minério, o petróleo ainda é uma quimera, mas temos um país deslumbrante, sob o ponto de vista paisagístico. O turismo tem de ser um dos vectores de desenvolvimento económico e, consequentemente, de criação da riqueza nacional.
A criação da riqueza nacional faz-se apostando em propostas exequíveis e propostas que possam, efectivamente, ter um impacto positivo no crescimento da economia nacional.
Na minha magistratura de influência, eu vou contar com todos os institucionais e com todos os são-tomenses, porque fazer crescer o país com todas essas dificuldades- que referiu há pouco- não é obra de um único órgão de soberania. Tem de ser uma obra de todos, pois só com todos construímos o país.
Em São Tomé e Príncipe praticamente todos os poderes estão na mão do primeiro-ministro. Se for eleito chefe de Estado a sua presidência será marcada pelas boas relações com o chefe do executivo, mesmo na eventualidade deste poder ser de outro partido?
Com certeza. Quando falo disso, não falo por mera retórica ou qualquer intuito eleitoralista. Quando fui primeiro-ministro era de uma família política e o Presidente da República era de outra família política e entendemo-nos bem, conseguimos ter uma relação cordial, institucional de Estado que nos permitiu identificar as necessidades do nosso povo.
Independentemente de qualquer que seja o governo que esteja no poder- porque a escolha é do povo- eu tenho de aceitar e tenho que procurar ter com esse governo uma cooperação estreita, institucional e global para que todos possamos construir São Tomé e Príncipe.
Acredita que será o próximo Presidente de São Tomé e Príncipe?
Eu não acredito, eu tenho a certeza absoluta.