Angola vai às urnas em 2022, para as eleições gerais, e o país já parece estar em modo de pré-campanha. A UNITA acusa o MPLA de instrumentalizar Igrejas e líderes religiosos. O MPLA não responde à acusação.
Quanto mais as eleições gerais se aproximam, menor parece ser a separação entre líderes religiosos e dirigentes do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). É o que afirma Francisco Gaio Kakoma, secretário provincial da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). O maior partido da oposição em Angola fez uma ronda pela província.
“O que encontrámos e observámos durante a nossa digressão nos municípios do Mavinga, Rivungo, Dirico, Calai, Cuangar e Cuchi é lastimável. Registámos com grande preocupação que a maioria das Igrejas e seitas religiosas são usadas pelo MPLA ou pelos seus dirigentes, violando assim o primado da Constituição e da lei”, disse o secretário provincial da UNITA, Gaio Kakoma.
A UNITA argumenta que o MPLA – no poder desde a independência – se confunde com o Estado. E o Estado é laico, de acordo com o artigo 10º da Constituição da República de Angola.
Se dirigentes do partido no poder usam meios do Estado para fazerem campanha com líderes religiosos, não só estariam a ir contra as regras que regem os partidos como também estariam a violar a lei mãe, acrescenta a UNITA.
A DW África contactou o departamento de informação e propaganda do MPLA, mas o partido recusou-se a falar sobre o assunto.
“É recorrente a instrumentalização”
Jeremias António, pastor da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), confirma, no entanto, que é “recorrente” a instrumentalização de líderes religiosos.
“Falando como pastor, isto tem sido recorrente para alguns políticos, sobretudo quando se aproximam campanhas. Acha-se que, entrando pela Igreja, é muito fácil obter a aceitação do eleitorado. Faço um apelo aos nossos políticos: os partidos políticos não podem instrumentalizar os ministros, muito menos os objetos de cultos, para fins de propaganda política.”
O padre Elias Ndala aconselha igualmente os seus colegas a pautarem-se por um comportamento que dignifique a sua missão.
“Quando se chega em momentos pré-eleitorais, há sempre esta tendência; o que se deve esperar é que estes líderes e estas Igrejas sejam conscientemente maduras, conscientes do seu trabalho e da sua ação. Se não tiverem esta visão, serão vulneráveis a manipulações. Quem manipula, quem corrompe, precisa de encontrar fragilidade no corrompido – manipulado”.
Parceria entre Governo e Igrejas
O moderador do conselho de Igrejas Cristãs em Angola (CICA) e representante provincial da Igreja evangélica Baptista em Angola, o pastor Eleazar Quinhumba, vai em defesa dos associados e diz que o que acontece não é instrumentalização, mas uma parceria entre a Igreja e o Governo.
“Nós dissemos que a Igreja é o parceiro do Governo, deve ajudar o Governo”.
O jurista Aguimarães Júlio, residente em Menongue, diz que não se pode falar em crime. “Face a esta denúncia que a UNITA faz, desde que se confirme que o ato pelo MPLA foi praticado, há uma violação daquilo que é o princípio da laicidade, o artigo 10 não se verificou, e há uma determinada infração. Mas, na verdade, esta infração não [pressupõe] uma responsabilidade criminal.”