Angola começou a entregar certidões de óbito aos familiares das vítimas mortais dos conflitos políticos ocorridos de 11 de Novembro de 1975 a 4 de Abril de 2002.
Esta segunda-feira, 31 de Maio, foram atendidas 17 pessoas no posto de atendimento do Pavilhão Multiusos Arena do Kilamba, onde se encontram médicos e psicólogos para acompanhamento dos familiares. “Este é um momento muito emotivo que os requerentes vão viver, depois de anos à espera de uma certidão de óbito”, admitiu o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz.
O Presidente angolano pediu, na quinta-feira passada, 27 de Maio, “desculpas públicas e perdão pelas vítimas dos conflitos”. João Lourenço pediu junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos no geral, em nome do Estado angolano, “desculpas públicas e perdão, pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”.
O Chefe de Estado discursava, no âmbito da reconciliação nacional, em memória das vítimas dos conflitos políticos em Angola, no período entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002.
Com a criação da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), o Presidente angolano, João Lourenço, revela uma vontade de reconciliação nacional e “este é o ponto de partida para a reconciliação entre os angolanos”, lembra o professor de história no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, Bruno Kambundo.
Quanto à celebração do centenário de Agostinho Neto previsto para 2022, o académico aponta que “independentemente das atrocidades ou não cometidas pelo líder Agostinho Neto, ele continuará sempre a ser o primeiro Presidente de Angola, por isso devemos honrar a sua memória. O país vive hoje um contexto diferente, de maior abertura política”.
“A Guerra civil de Angola não foi feita apenas por uma das partes. Houve partes envolvidas e as culpas devem ser repartidas. Costumo dizer que uma das bases para edificar uma Angola melhor e de todos deve começar por uma assunção de culpa de todos o que tiveram nestes processos de decisões políticas do país”, descreve o historiador. À pergunta: “é tempo de outras forças políticas assumirem atrocidades cometidas até 2002”, o académico responde que “sim. É altura de outras forças políticas saírem também, antes de apontar o dedo. É um momento de assumirmos e reconhecer o que se passou no passado para começarmos a traçar um novo caminhar”.