Maputo foi ontem o palco de uma cimeira regional para explorar pistas para o combate à violência vigente há mais de três anos e meio em Cabo Delgado, no extremo norte de Moçambique.
Apesar de não se ter ainda chegado a uma conclusão lapidar sobre a estratégia a ser adoptada na luta contra o terrorismo, tendo sido para já agendada uma nova cimeira até ao dia 20 de Junho, o Presidente moçambicano garantiu que foram adoptadas «medidas visando eliminar pela raiz as acções terroristas através do reforço da capacidade operacional das Forças de Defesa e Segurança, através da segurança fronteiriça e eliminação de fontes de financiamento do terrorismo e reconstrução de infra-estruturas destruídas”.
Praticados inicialmente com meios rudimentares, os ataques tornaram-se cada vez mais sofisticados e começaram, a partir de certa altura, a ser reivindicados por organizações que se reclamam do islamismo radical. O «Inimigo sem rosto», como o tem qualificado o executivo moçambicano, começou a ganhar os traços de um inimigo professando uma doutrina estranha às correntes do Islão praticado em Moçambique e nomeadamente na sua zona norte, onde a população muçulmana é maioritária.
Segundo o Sheikh Aminudin Muhammad, presidente do Conselho Islâmico de Moçambique (CISLAMO), a convivência das diferentes comunidades foi sempre pacífica em Cabo Delgado. «Costumamos dizer que há motivos estranhos, podem ser motivos económicos, podem ser motivos políticos, podem ser motivos de concorrência entre grandes multinacionais», considera o responsável religioso que ao ser questionado sobre a necessidade de se reforçar a vigilância sobre o surgimento de movimentos religiosos, recorda que a comunidade muçulmana «já manifestou a sua prontidão para colaborar com o Ministério dos Assuntos Religiosos».
Igualmente favorável a um reforço do controlo das actividades dos novos grupos e dubitativo quanto à dimensão “religiosa” dos acontecimentos no norte de Moçambique, Mahomed Osman, empresário e assessor de direcção da comunidade Islâmica de Cabo Delgado, considera que é também necessário apostar na formação dos jovens da região. «É importante uma intervenção militar viril, mas é ainda mais importante termos uma intervenção económica, financeira e social ainda mais viril no sentido de provarmos a existência de um inclusão social e que permita esta geração ter um emprego estável, que permita esta geração ter acesso à educação e à saúde», preconiza o responsável.
De referir entretanto que no terreno, a urgência continua a ser nota dominante. Um pouco mais de dois meses depois do ultimo ataque de envergadura, o ataque contra a vila de Palma no passado dia 24 de Março, a Organização Internacional das Migrações indicou ontem que o numero de deslocados resultantes desta ocorrência ultrapassava os 60 mil, sendo que ao todo se contabilizaram mais de 2500 mortos e 700 mil deslocados desde o inicio da violência em Outubro de 2017.