Cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, desenvolveram uma vacina contra a malária com níveis de eficácia de 77%. O ensaio clínico, realizado com 450 crianças no Malawi, ainda está na primeira fase, mas a investigadora e directora executiva do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, Maria Manuel Mota, afirma que são boas notícias.
Um ensaio clínico realizado com 450 crianças no Malawi mostrou a eficácia de uma vacina para a malária que tem cerca de 77% de protecção. “Saiu agora um artigo com um ensaio clínico que foi feito no Malawi com 450 crianças, um ensaio clínico ainda na fase 1, mas que mostrou pela primeira vez uma grande eficácia de uma vacina para a malária que tem cerca de 77% de protecção em crianças a viver numa região endémica”, afirma Maria Manuel Mota investigadora e directora executiva do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa.
“Trata-se de um nível bastante elevado”, reconhece a investigadora, uma vez que a vacina para a malária RTSS – aprovada e licenciada para começar a ser distribuída- tem apenas uma eficácia de cerca de 33%.
Os cientistas britânicos vão pedir a autorização para realizar ensaios clínicos de fase 2 e 3, durante os quais serão aumentados os números de participantes e serão testadas diferentes doses da vacina.
“Em vez de serem 450 crianças, serão milhares de crianças que vão entrar neste ensaios clínicos. (…) Vão-se testar vários aspectos para ver se esta eficácia é robusta, a vacina parece ser muito segura. O vector que é usado para a vacina em si e o adjuvante já estão a ser usados em vacinas para a Covid-19, portanto parece que a vacina está assegurada. Esperamos que as autoridades dêem autorização para poder passar a estes ensaios clínicos”, salienta.
Os resultados agora alcançados estão a surpreender a própria comunidade científica, que investiga esta doença infecciosa, porque há décadas que os cientistas trabalham e nada acontece. A investigadora explica que a malária é desenvolvida a partir de um parasita, um organismo muito desenvolvido, e que é muito mais difícil de controlar.
Na prevenção da malária existem as medidas de profilaxia, fármacos anti-paludismo, mas que não podem ser tomadas pelas pessoas que vivem nas regiões endémicas, uma vez que não podem ser administrados o ano todo. Nesta batalha, a utilização de redes mosquiteiras e insecticidas têm salvo a vida de milhões de pessoas.
“Nas regiões mais afectadas, desde 2000, o que tem salvado milhões de pessoas são as redes mosquiteiras impregnadas de insecticidas (…) e uns fármacos que são administrados quando as pessoas estão doentes e que têm por base a artemisinina” defende a investigadora.
Maria Manuel Mota diz que quando existir esta vacina vai “prevenir que as crianças fiquem infectadas” e será “administrada em períodos do ano antes da época de transmissão começar”.
A vacina poderá igualmente ser administrada a todos aqueles que viajam para o continente africano, porém a investigadora e directora executiva do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa reconhece que as pessoas que vivem nas regiões endémicas serão as mais beneficiadas.
A Organização Mundial da Saúde apelou recentemente para a erradicação da malária em África, a doença mata cerca de 400 mil pessoas todos os anos.