Bloco de Esquerda continua a subir e solidifica terceiro lugar, beneficiando também da queda do Chega. PAN ressente-se da saída do líder. CDS afunda-se na irrelevância.
O PSD (26,1%) recuperou em abril quase todo o terreno perdido no mês anterior, contribuindo para que a soma da Direita volte a ser ligeiramente superior ao resultado do PS (38,2%). Os socialistas continuam ainda assim com uma confortável vantagem de 12 pontos sobre os sociais-democratas, de acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. Destaque também para a contínua recuperação do Bloco de Esquerda (9,2%), que solidifica o terceiro lugar, beneficiando da quebra do Chega (7,2%). O CDS afunda-se de novo na irrelevância (0,4%).
Foi um mês de abril difícil para o PS. Começou com o confronto político e constitucional entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, a propósito do alargamento dos apoios sociais relativos à pandemia. E prosseguiu com o despacho da Operação Marquês, em que o país ouviu um juiz a dizer, em direto, que o ex-socialista José Sócrates se deixou corromper enquanto exercia o cargo de primeiro-ministro.
O impacto, até ver, foi limitado: os socialistas perderam um ponto e meio nas intenções de voto, mas continuam quase dois pontos acima do que conseguiram nas legislativas de 2019.
A conjugação da quebra do PS com a subida do PSD – que volta ao patamar que lhe é mais habitual nesta série de barómetros -, trouxe de novo o conjunto da Direita para um patamar superior ao dos socialistas, ainda que por escassas décimas: vale agora quase 39 pontos percentuais.
Direita reconfigurada
Um copo meio cheio, se tivermos em conta que são mais quatro pontos do que o conseguido nas urnas pelos quatro partidos, em 2019. Um copo meio vazio, quando se compara com os 54 pontos que valem os quatro partidos da Esquerda (mais umas décimas do que nas últimas legislativas).
Acresce que à Direita haveria, em caso de eleições, uma relação de forças bastante diferente da que existe hoje no Parlamento. A Direita clássica valeria menos cinco pontos, uma perda que se deve quase exclusivamente ao CDS de Francisco Rodrigues dos Santos, que continua a sua descida aos infernos (volta ao resultado catastrófico de dezembro).
Ao contrário, a nova Direita (Chega e Iniciativa Liberal) valeria mais dez pontos do que nas legislativas de há dois anos, ou seja, algo próximo às duas dezenas de deputados.
Radicais e liberais
Os radicais de Direita são o partido que mais cresce, desde as últimas eleições. Mesmo que neste último mês tenham perdido algum gás (7,2%), continuam a ter uma projeção que representa mais seis pontos percentuais do que o resultado que valeu a André Ventura um lugar de deputado único nesta legislatura.
É o Chega o principal responsável pela atual irrelevância do CDS (como se confirma no mapa da transferência de votos) e mostra ter força e estabilidade em algumas regiões (Lisboa e Sul, por exemplo), faixas etárias (35 a 64 anos) e segmentos socioeconómicos (classe média baixa).
Quase o mesmo se pode dizer do Iniciativa Liberal (4,9%). Ganha quase quatro pontos relativamente a 2019 e revela estabilidade nesse crescimento: começou no patamar dos dois pontos, passou para os três e, já em 2021, chegou aos cinco, onde permanece há três meses.
A estabilidade dos liberais mede-se também pelo facto de funcionar como um relógio suíço em alguns segmentos da amostra: é mais forte nos mais novos, nos que têm maior rendimento e nas áreas metropolitanas (este mês fica em terceiro lugar no Porto, com 12,5%).
Bloquistas em alta
Do Bloco de Esquerda (9,2%) não se poderá dizer que é um novo partido, mas é seguramente um partido novo (chegou ao Parlamento na viragem do século XX para o XXI). E também ele tem boas indicações neste início de ano: vai no terceiro mês consecutivo de recuperação, cimenta o terceiro lugar e está de volta ao patamar de 2019, deixando para trás o desgaste provocado pelo confronto orçamental com os socialistas. Consegue resultados dentro da média em Lisboa e Porto e acima da média na Região Centro (13,6%).
No que diz respeito à CDU (5,7%), a estabilidade é a norma, ainda que sempre um pouco abaixo do resultado de 2019, que já tinha sido o pior de sempre dos comunistas.
Finalmente, o PAN (2,7%) parece ressentir-se do abandono de André Silva e da demora em entronizar um novo líder. Já está abaixo do que conseguiu nas últimas eleições e ainda mais longe dos 6,5% que o barómetro lhe atribuiu em novembro do ano passado.
Ventura bate recordes de rejeição no Porto e entre os mais velhos
António Costa é um fenómeno de popularidade (é o único com saldo positivo na avaliação dos portugueses). André Ventura é um fenómeno de rejeição (é o único em que aumenta a percentagem de avaliações negativas). Mas há outra novidade no barómetro da Aximage para o DN, JN e TSF que faz a avaliação aos líderes partidários: Catarina Martins ultrapassou Rui Rio, ainda que ambos mantenham um saldo negativo.
O líder do Chega destaca-se de todos os outros por causa dos 64% de avaliações negativas. A rejeição é muito elevada em todos os segmentos da amostra mas, em particular entre os residentes da Área Metropolitana do Porto, os que têm melhores rendimentos, e os cidadãos com mais de 65 anos.
Há aliás uma outra particularidade, relativamente aos mais velhos. Quando se tem apenas em conta a idade, este grupo é sempre o mais generoso nas avaliações positivas de todos os candidatos. Com a única exceção do líder da direita radical.
Outra marca distintiva de Ventura tem a ver com a percentagem dos inquiridos que se refugiam na indiferença do “assim-assim”: cerca de um terço na generalidade dos líderes, exceto no caso de Ventura, em que são apenas 11%.
Na luta pelo segundo lugar desta tabela, Catarina Martins leva desta vez a melhor sobre Rui Rio, que regista uma quebra de dez pontos percentuais nas avaliações positivas. Se tivermos em conta apenas os segmentos partidários, o líder do PSD só consegue saldo positivo entre os seus. Já a coordenadora do Bloco tem saldo positivo em casa, mas também entre os eleitores socialistas e comunistas.
Voltando a António Costa, que é o líder destacado na avaliação de desempenho (com a vantagem evidente de ser primeiro-ministro e fugir à má fama de ser oposição), os principais suportes estão nas áreas metropolitanas, nos mais velhos e nos mais pobres (sempre com uma percentagem de positivas acima dos 60 pontos).
FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, JN e TSF, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com atualidade política. O trabalho de campo decorreu entre os dias 22 e 25 de abril de 2021 e foram recolhidas 830 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.
Foi feita uma amostragem por quotas, com sexo, idade e região, a partir do universo conhecido, reequilibrada por sexo, idade, escolaridade e região. À amostra de 830 entrevistas corresponde um grau de confiança de 95% com uma margem de erro de 3,4%.
A responsabilidade do estudo é da Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de José Almeida Ribeiro.