Depois das seca e das cheias, cinco municípios do Cuando Cubango lidam agora com gafanhotos. Desde o final de 2020, a praga está a devastar a produção agrícola, agudizando a fome das comunidades no sudeste de Angola.
Os municípios angolanos da fronteira com a Zâmbia e a Namíbia estão a ser assolados por uma praga de gafanhotos desde outubro de 2020. Os impactos à produção agrícola já são visíveis em Cuangar, Dirico, Calai, Rivungo e Mavinga, e o risco à segurança alimentar na província é iminente.
O director municipal da Agricultura, Pesca e Pecuária do Rivungo, Garcia Rampa, explica que, das 371 toneladas de produtos que estavam previstas para a colheita, 250 já foram comprometidas.
Rampa disse à DW África que houve um maior impacto no período de outubro do ano passado a março deste ano. Apesar de a maior parte da colheita ter sido perdida, a expectativa é que se colha algo, mesmo que em quantidade inferior a esperada.
“A estimativa que eu tinha é de 371,76 toneladas de diversos produtos. Claro que, se eu tiver que sofrer uma perda de 250 toneladas, é praticamente a maior [parte da produção]. Colhe-se, mas não poder-se-á fazer face ao que se esperava. Isso tende a criar um desiquilíbrio na segurança alimentar”, alerta Rampa.
“Gafanhotos devoradores”
Segundo Rampa, o trabalho de contenção tem algum efeito. Trabalha-se no momento com meios químicos, mas é preciso ampliar o combate aos insetos para que haja resultados mais significativos.
“Há fases mais propícias para se fazer o combate [aos insetos] e pode haver eficácia. No entanto, se estiverem na fase adulta, na qual conseguem voar, fica difícil. [A eficácia] só pode ser alcançada com a intervenção de um meio aéreo”, explica o engenheiro agrónomo.
O biólogo Jerby Frederico constatou sete espécies de gafanhotos devoradores que formam verdadeiras nuvens. “O clima terá influenciado muito que haja está emigração destes insetos. O seu objetivo é procurar melhores condições de vida e [a sua alimentação]. Quanto mais for favorável, eles vão devastando”.
Frederico prevê prejuízo às comunidades locais, que têm sido castigadas pela estiagem. “Quanto mais insetos devastadores, mais risco de fome às populações”, alerta.
Ampliar o combate
O biólogo da Universidade de Cuito Canavale também reforçou a necessidade de as autoridades ambientais e de produção usarem meios aéreos para combater a praga de gafanhotos, podendo usar “inseticidas, substâncias biológicas e químicas para eliminar os insetos. Nesta época, há o aumento da produção do hormônio serotonina, que aumenta também o seu apetite e [por isso] estão a destruir hectares maiores”, explica Frederico.
O Gabinete Provincial da Agricultura, Pesca e Pecuária não respondeu, até ao momento de fecho desta reportagem, aos pedidos de entrevista da DW África. Uma fonte do governo provincial do Cuando Cubango confirmou, no entanto, que, antes da praga, a previsão era de colher mais de 1000 toneladas de diversos produtos.
Segundo a fonte da DW África, este volume de produção agrícola equilibraria o acesso aos alimentos num momento em que a província luta contra a fome e a população lida com altos preços em itens básicos. A praga de gafanhotos, no entanto, veio juntar-se à seca e às cheias e terá uma grande influência nas contas finais da colheita.