Analistas ouvidos pela DW África falam em perda de identidade cultural na província angolana de Cabinda e apontam como uma das principais razões a presença, cada vez maior, de imigrantes dos países vizinhos no enclave.
A província de Cabinda tem características culturais bastante marcantes e, entre elas, está a língua local, o ibinda. Mas falar este idioma ou português, institucionalizado como língua oficial do país, torna-se cada vez mais difícil em alguns locais devido à chegada massiva de estrangeiros à província, oriundos principalmente da República Democrática do Congo e da República do Congo.
As autoridades tentam combater a imigração ilegal, inclusive intensificando as medidas de controlo nas fronteiras com os países vizinhos, mas os relatos dão conta da entrada de imigrantes por vias clandestinas.
Como resultado, a presença dos imigrantes tem popularizado o francês e a língua materna dos congoleses, o lingala.
Nos locais de maior circulação, onde já não se ouve tanto o ibinda ou o português, comerciantes cabindenses criticam a situação.
“De certa forma a nossa cultura está ameaçada porque nota-se que uma boa parte já fala lingala. Aqui no São Pedro por exemplo, nota-se que a maior parte que vende neste mercado são provenientes da República Democrática do Congo”, dizem.
Conhecer a história
Alguns moradores defendem em Cabinda a necessidade de uma maior divulgação dos factos históricos e culturais protagonizados pelos ancestrais para que as atuais gerações sejam informadas sobre a sua importância e o impacto na cultura tradicional, de modo a que se verifique uma estabilidade cultural.
“Triste realidade que notamos aqui na nossa própria província, onde o próprio estrangeiro fala mais a sua própria língua em vez da nossa”, lamenta o comerciante Domingos Figueiredo.
Analistas ouvidos pela DW África temem que a situação se agrave e pedem uma intervenção da Secretaria da Cultura local.
O analista José Puna alerta para o perigo do desaparecimento de certos traços culturais de Cabinda. “Deve haver políticas do Estado capazes de persuadir as populações a absorverem o lado bom das novas culturas para que isto não venha afetar negativamente o desempenho ou a identidade das nossas populações”.
“Em determinadas igrejas, os pastores quando estão a pregar, tem sempre um tradutor que faz a tradução da língua portuguesa para o Lingala. Isto quer nos levar a refletir que nós estamos preocupados com o estrangeiro que está aí e que não se importa com a nossa língua mesmo estando no nosso solo”, defende.
Atentado à cultura?
Por seu turno, o analista Augusto Tomás entende que não se trata de um atentado ou ameaça à cultura cabindense.
“Como todo e qualquer fenómeno, há sempre um ponto positivo e negativo. Na verdade, os donos da cultura é que precisam efetivamente criar condições, criar um esforço para não se deixarem levar, porque é possível nós tirarmos alguns pontos positivos, pois a diversificação da língua permite que algumas pessoas aprendam um pouquinho a culturas dos outros”, sublinha.
A DW África tentou contactar a Secretaria da Cultura de Cabinda, porém sem sucesso.