Consultora NKC African Economics diz que uma intervenção internacional é inevitável para recuperar o controlo de Cabo Delgado, após ataque em Palma. Países e organizações movimentam-se para dar apoio a Moçambique.
Num documento divulgado esta terça-feira, a NKC African Economics salientou que o ataque da semana passada à vila de Palma “foi estratégico” porque impede os trabalhos no megaprojeto de gás.
“O ataque a Palma foi um ataque estratégico, tendo em conta a proximidade com as operações da Total, e o ‘timing’ pode ter tido a ver com a decisão de recomeçar os trabalhos”, escreveu o analista Zaynab Mohamed numa nota enviada aos clientes, e a que a agência de notícias Lusa teve acesso.
No comentário à violência que se vive na região, Zaynab Mohamed acrescentou que “vai ser necessária uma intervenção internacional para recuperar o controlo e atingir a estabilidade na região”, já que a única estrada que pode levar mantimentos até à zona do megaprojeto de transformação do gás é controlada pelos terroristas.
Para Zaynab Mohamed, “a crise de segurança em Cabo Delgado está a tornar-se mais séria, porque os grupos armados presentes na região, apesar de estarem visíveis desde 2017, estão agora claramente mais preparados e mais coordenados, o que sugere que estão a receber apoio externo”.
Os equipamentos militares comprados pelo Governo moçambicano, considerou, não vão conseguir resolver o problema e por isso é preciso uma intervenção internacional. “Quanto mais tempo demorar para ganhar terreno aos insurgentes, mais difícil será recuperar o controlo da área e recomeçar o trabalho no projeto de gás”, concluiu o analista.
“Indescritível desumanidade”
Entretanto, vários países e organizações estão a mobilizar esforços opara dar apoio ao Governo moçambicano na luta contra os terroristas. O secretário-geral da União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa (UCCLA) apelou esta terça-feira à concertação de esforços para contribuir para o fim da “indescritível desumanidade” contra “cidadãos indefesos” na região do Cabo Delgado.
Numa carta dirigida aos presidentes das cidades associadas da UCCLA, Vitor Ramalho sugere uma reunião por videoconferência para serem ponderadas eventuais medidas que contribuam para o fim da violência em Pemba, capital da região de Cabo Delgado, em Moçambique.
“Devemo-nos todos sentir cidadãos de Cabo Delgado”, defendeu Ramalho, acrescentando: “É preciso concertarmos esforços numa solidária corrente de opinião que possa contribuir para pôr termo à gravíssima situação existente”.
E concluiu: “Isso implica que, pelos meios ao nosso alcance, sensibilizemos os poderes públicos nacionais e internacionais para que se obtenha uma resposta inadiável e eficiente, que esteja para além de declarações de condenação da barbárie, fundamentada numa lógica de morte e alheia ao respeito do direito fundamental à vida”.
Para Vitor Ramalho, esta resposta “tem subjacente a defesa do direito internacional, jamais podendo deixar de se articular com as funções soberanas do Estado de Moçambique”.
Militares portugueses vão ajudar em Cabo Delgado
Além da ajuda humanitária, a comunidade internacional está a movimentar-se para dar treinamento militar ao exército moçambicano. O Ministério da Defesa de Portugal, por exemplo, confirmou esta terça-feira (30.03) que os primeiros elementos do contingente português que vai ajudar na formação das forças militares moçambicanas partirão na primeira quinzena de abril.
O envio deste contingente de 60 militares portugueses, das forças especiais, é enquadrado pelo novo acordo-quadro de cooperação bilateral que está a ser ultimado pelos ministérios português e moçambicano, disse fonte da tutela à agência de notícias Lusa.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no passado dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano. O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas ações já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.