Voos de Pemba para a capital de Moçambique transportam sobretudo trabalhadores ligados ao projeto de gás resgatados de Palma, alvo de ataques armados. Milhares de pessoas continuam a tentar abandonar o distrito.
Uma ponte aérea está montada entre Pemba e Maputo para retirar do norte de Moçambique quase 1.300 pessoas resgatadas no sábado (27.03) por navio do distrito de Palma, alvo de ataques armados na quarta-feira, disse à agência de notícias Lusa fonte da Total.
Prevê-se que a operação decorra até esta segunda-feira, disse a mesma fonte, durante as operações em curso na capital provincial de Cabo Delgado.
Os voos transportam sobretudo trabalhadores ligados ao projeto de gás do norte de Moçambique para a capital moçambicana, 1.700 quilómetros a sul, de onde terão ligação para as suas províncias ou para outros países, no caso de funcionários estrangeiros, acrescentou.
Um grupo de trabalhadores portugueses seguiu no primeiro avião que descolou de Pemba para Maputo pelas 13h00 deste domingo, cerca de três horas depois de o navio Sea Star 1, um ‘ferry’ da companhia Zan Fast Ferries, ter chegado ao porto de Pemba, disse à Lusa um dos integrantes do grupo.
A companhia marítima faz habitualmente ligações entre o território continental da Tanzânia e o arquipélago de Zanzibar e desta vez cumpriu a missão especial entre Afungi e a capital de Cabo Delgado.
Um segundo navio é aguardado esta segunda-feira, de acordo com as autoridades portuárias de Pemba, transportando sobretudo população deslocada do distrito de Palma, 200 quilómetros a norte da capital provincial.
Forte dispositivo de segurança e silêncio
Duas fontes de organizações humanitárias contactadas em Pemba referiram que, salvo o regresso de alguns profissionais que estavam destacados em Palma, como professores, não houve até hoje registo de entrada massiva de deslocados, que já aconteceu após outras vagas de ataques em 2020.
Este domingo, todo o movimento, em todas as zonas por onde circularam as pessoas que chegaram no navio, decorreu sob fortes medidas de segurança, em áreas vedadas aos jornalistas pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Algumas pessoas abordadas pela Lusa fora das zonas vedadas recusaram-se a prestar informações sobre os acontecimentos em Palma e um funcionário de uma empresa foi interrompido por um alegado superior hierárquico quando dava uma entrevista à televisão pública moçambicana, às portas do aeroporto de Pemba.
Em Maputo, os jornalistas foram igualmente impedidos pelas forças de segurança de abordar os passageiros à chegada.
A vila sede de distrito que acolhe os projetos de gás do norte de Moçambique foi atacada na quarta-feira por grupos insurgentes que há três anos e meio aterrorizam a região. Dezenas de civis, incluindo sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel de Palma, no norte de Moçambique, foram mortos pelo grupo armado que atacou a vila na quarta-feira, disse hoje o Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.