25 C
Loanda
Sábado, Novembro 23, 2024

Moçambique: Activistas pedem ao Presidente Filipe Nyusi para combater discurso de ódio

PARTILHAR
FONTE:DW

A Rede dos Defensores de Direitos Humanos apela à intervenção urgente do Presidente Filipe Nyusi e da Procuradoria-Geral contra as campanhas de ameaças, incitação ao ódio à intolerância contra vozes independentes.

Em Moçambique estão a ser levadas a cabo “campanhas de ameaças e de incitação ao ódio e à intolerância contra defensores dos direitos humanos, activistas sociais, académicos, organizações da sociedade civil e media independentes”, afirma a “Rede Moçambicana dos Defensores de Direitos Humanos” (RMDDH).

Devido à gravidade da situação, a Rede Moçambicana de Defensores dos Direitos Humanos (RMDDH) apela à intervenção urgente, tanto do Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, quanto da Procuradoria-Geral da República. “O seu silêncio e a inacção dos órgãos da Justiça perante graves violações dos direitos e liberdades fundamentais concorrem para a institucionalização da impunidade e do clima de medo na esfera pública moçambicana”, lê-se na carta enviada ao chefe de Estado moçambicano, datada de 24 de Fevereiro.

Em entrevista à DW África, esta sexta-feira (26.02), o activista e representante da RMDDH, Adriano Nuvunga, diz que a rede solicitou uma audiência ao Presidente da República e à Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, para abordar estas questões a bem do Estado de direito e democrático, da justiça, da segurança e da ética pública.

DW África: A que tipo de ameaças se refere concretamente a RMDDH?

Adriano Nuvunga (AN): Se se recorda, nos últimos oito anos, desde que se assassinou barbaramente o professor Gilles Cistac [em março de 2015], as ameaças, os sequestros com motivações políticas, mas, particularmente, a institucionalização do discurso de ódio por parte de um grupo de moçambicanos ligados ao poder, tem estado na ordem do dia. E aquilo que nós vimos nos últimos tempos, os assassinatos são perseguidos de discursos de ódio. Então, dissemos não! É neste contexto que a Rede Moçambicana dos Defensores dos Direitos Humanos enviou aquela carta ao Presidente da República [Filipe Nyusi] e pediu um encontro com a Procuradora-Geral da República [Beatriz Buchili].

 - portal de angola
O activista Adriano Nuvunga<br >DR

DW África: Diz que os autores das ameaças são pessoas ligadas ao poder. Há foram identificadas?

AN: Nós indicámos algumas das pessoas na carta. Nós estamos a dizer que é do conhecimento público que parte das pessoas que tem estado a incitar a ódio, desde há algum tempo a esta parte, são pessoas que são acarinhadas pelo poder público em Moçambique.

DW África: Na nota a rede refere-se também ao caso concreto e actual do antigo ministro da Saúde, Hélder Martins. O que é que aconteceu a Hélder Martins?

AN: O que aconteceu foi que esse ilustre, Julião Cumbane, publicou uma nota, chamando o Hélder Martins de um velho caduco branco, que quer ser mais importante que os moçambicanos pretos na sua terra. Isto é inaceitável, não somente porque o Hélder Martins é um dos libertadores de Moçambique, mas também porque Moçambique é uma nação pluriracial. É uma nação que à luz da sua Constituição tem no seu tecido social pessoas das mais variadas origens. Isto é inaceitável por particularmente vir de uma pessoa que recebe salário do Estado e que ocupa uma posição para a qual foi nomeada pelo primeiro-ministro. Proferiu um discurso que já estava a ganhar força. Isto é inaceitável. [Julião Cumbane é um alto dirigente da FRELIMO, que ocupa cargos públicos, entre os quais PCA dos parques de Ciência e Tecnologia. Tem feito uma série de publicações nas redes sociais a favor do Governo e contra os críticos do Governo].

DW África: Tem a esperança que a Procuradoria-Geral da República ainda vir a pegar nestes casos e investigá-los com eficácia e determinação?

AN: A minha experiência de luta democrática mostra que não se pode perder a esperança. É um evento muito simples, que pode resultar em uma Procuradoria-Geral mais activa, e pode retirar a Procuraria da posição onde se encontra de servilismo em relação ao poder público. Acredito que sim, isso ainda é possível. Apesar de, neste momento, a Procuradoria mostrar pelas suas acções que está mais preocupada em defender o poder do dia do que propriamente as liberdades e os direitos humanos no país.

DW África: E o Presidente da República pode contribuir para uma solução ou é parte do problema?

AN: Eu acredito que o Presidente da República pode [ajudar]. E note que este Presidente que nós temos é um Presidente jovem. Filipe Jacinto Nyusi era cidadão, contrariamente ao Presidente Samora Machel, ao Presidente Joaquim Aberto Chissano, ao Presidente Armando Guebuza, que chegaram à presidência como libertadores, como heróis. Este não! Nyusi está a construir o seu percurso de estadista através do exercício da democracia, com base na Constituição da República. Por isso acredito que o Presidente da República pode e vai a tempo de deixar um legado importante.

spot_img
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
spot_imgspot_img
ARTIGOS RELACIONADOS

Botswana e Moçambique duas visões opostas da África Austral

Estes últimos dias, ocorreu uma história de duas transições na África Austral. Primeiro as boas notícias. O Botswana, com...

Vários mortos nas manifestações em Moçambique

Várias cidades de Moçambique foram este sábado (02.11) palco de protestos contra os resultados eleitorais. Há registo de, pelo...

Tensão política em Moçambique atinge ponto crítico após eleições contestadas

Os moçambicanos preparam-se para mais turbulência política na sequência do apelo do líder da oposição, Mondlane, para uma semana...

Crise política agrava-se em Moçambique com manifestantes e jornalistas atacados esta manhã em Maputo pela polícia

A Polícia moçambicana dispersou esta manhã, 21 de outubro, uma manifestação no centro de Maputo, convocada pelo candidato presidencial...